Matheus Leitão
Quando afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, “na política, já aprendeu 95% das coisas”, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro chamou a atenção não para o conhecimento acumulado por seu ex-ministro da Infraestrutura, mas justamente para os 5% que ele não entendeu ainda.
Até agora, Tarcísio de Freitas tem seguido os passos de seu mentor em quase tudo: da política econômica às iniciativas na área de segurança pública, passando pela reprodução da retórica truculenta e por medidas controversas, que levaram, entre outros efeitos, ao aumento da letalidade policial.
Publicamente, na maioria das ocasiões, Tarcísio procura afagar Bolsonaro, com elogios e demonstrações de fidelidade. “Ele mudou uma lógica. Não consultou partidos políticos para montar seu ministério (…). Entregou um Brasil em que podíamos sonhar”, disse o governador, no mesmo evento em que participava o ex-chefe, em Presidente Prudente.
Há, todavia, uma linha que Tarcísio de Freitas não cruza – e que representa os 5% de aprendizado que lhe faltam – a da afronta ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Quem dá a senha para essa interpretação é o filho zero um do ex-capitão, Flávio Bolsonaro, que, em entrevista ao jornal O Globo, disse que o candidato da direita em 2026 precisará não só indultar Bolsonaro como também fazer prevalecer essa disposição, mesmo na hipótese de decisão contrária da Justiça.
Tarcísio de Freitas, tendo em vista seu histórico político anterior e posterior ao governo de Jair Bolsonaro, jamais confrontará o Supremo nesses termos, na eventualidade de uma presidência da República.
Posto que não concorrerá sem as bênçãos do padrinho, duas conclusões se impõem: a primeira é que Tarcísio tem no horizonte imediato a candidatura à reeleição ao governo de São Paulo; a segunda é que, na política, muitas vezes, 5% valem pelo todo.