40 anos sem Tancredo Neves – 20/04/2025 – Opinião

Date:

Compartilhe:

Ronaldo Costa Couto

Tive o privilégio de ser amigo, confidente e auxiliar de Tancredo Neves, o melhor presidente que o Brasil não teve. De pelejar a seu lado no governo de Minas Gerais, na campanha das Diretas Já para presidente da República e na campanha presidencial de 1984-85.

Íntegro, arguto, culto, espirituoso, hábil. O adversário José Bonifácio Lafayette de Andrada, o advogado e político Zezinho Bonifácio, dizia que Tancredo era capaz de tirar as meias sem arrancar os sapatos. Um domador de crises, campeão da conciliação, mas nunca acima de seus princípios ético-políticos e dos interesses do Brasil.

“A esperança é o único patrimônio dos deserdados, e é a ela que recorrem as nações ao ressurgirem dos desastres históricos.”

Em agosto de 1984, aos 74 anos, Tancredo Neves troca o conforto do governo de Minas pela candidatura presidencial, que, sabíamos, sujeita a graves riscos. “Temos de fazer a transição com os militares, não contra eles”, dizia. Conseguiu. Sem tiro nem sangue, comandou a construção da ponte da ditadura para a democracia e depois morreu por ela.

Na noite de 14 para 15 de março de 1985, mesmo diante de melindrosa cirurgia considerada urgentíssima pelos médicos, negou-se a autorizar o procedimento até que o sobrinho Francisco Dornelles, depois de contato com a cúpula do governo, lhe garantiu que o presidente João Figueiredo, desafeto de seu vice, José Sarney, lhe passaria o cargo. Temia uma crise político-militar de desfecho imprevisível para a nação.

Tancredo partiu no dia 21 de abril de 1985, em São Paulo, depois de sete cirurgias em 38 dias de frustração devastadora e medonho sofrimento físico. “Eu não merecia isso”, afirmou.

Coube-me, como governador do Distrito Federal, receber o corpo na Base Aérea de Brasília e acompanhá-lo até o Palácio do Planalto. Coração apertado, chorando, segui o carro de combate Urutu, do Exército, que conduziu o caixão até a sede do Executivo. Ao longo de todo o trajeto, uma multidão em lágrimas, uma das maiores da história de Brasília.

No dia seguinte, Belo Horizonte. E, na noite fria de 24 de abril, o sepultamento no Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, em sua tão amada São João del-Rei (MG).

Voltei para Brasília arrasado, frase de Guimarães Rosa martelando na cabeça: “O que tem de ser tem muita força”. Que seria da Nova República e do Brasil sem ele? Sem o seu enorme capital político? Sem sua genialidade política e administrativa? Do ministro Roberto Gusmão: “O maestro foi embora e levou a partitura”.

Ulysses Guimarães: “Tancredo foi um bruxo, ninguém resistia a sua sedução”. Senador e governador Pedro Simon: “Eu não tenho nenhuma dúvida: o doutor Tancredo se imolou pela pátria”.

Tancredo Neves: “Para descansar, tenho a eternidade”.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.



Leia Mais: Folha

spot_img

Related articles

O novo papa Leo XIV detém a primeira massa com cardeais – DW – 05/05/2025

Leo XIVo primeiro papa norte-americano nos 2.000 anos de história da igreja, manteve sua primeira homilia particular...

Hike de exportação chinesa relatada como conversas tarifárias conosco definido para iniciar | Notícias de guerra comercial

A China desviando as exportações, mas ansiosa para evitar a ameaça da guerra comercial na primeira reunião...

Proteger a democracia não é suficiente: cinco coisas que os americanos devem lutar por | Huck Gutman

Huck Gutman UM O jantar recente foi pacífico até terminar, quando o filho de um amigo falou em...

Site seguro, sem anúncios.  contato@acmanchete.com

×