A piña colada faz ponta crucial em ‘White Lotus’ – 25/04/2025 – Daniel de Mesquita Benevides

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Um dos primeiros episódios da nova temporada de “Black Mirror” exibe rara exuberância técnica ao contar a história da releitura de um clássico do cinema, que na verdade é uma paródia de “Casablanca”. Usando inteligência artificial, dotam os personagens de vida própria e inserem uma atriz contemporânea no cenário em preto e branco.

Inevitáveis as confusões e até alguns momentos de angústia. O real se confunde ao artificial, sentimentos afloram onde não eram esperados. Mas o que nos interessa aqui é que a atriz vintage, uma sósia de Ingrid Bergman (Emma Corrin, que fez a princesa Diana em “The Crown”), em momento de flerte num bar, em alguma cidade do Norte africano, pede um black rose ao garçom.

O coquetel de nome evocativo existe em ao menos duas realidades paralelas. Numa delas é uma espécie de sazerac, misturando, num copo sem gelo, bourbon e conhaque. Em outra, é um blend de gim com xarope de amora preta. Um drinque delicado para uma personagem delicada.”White Lotus” também voltou em grande estilo. Agora a ação, sempre com momentos de muita aflição e constrangimento, temperados com um humor sombrio, se passa num hotel na Tailândia, com o litoral coberto de coqueiros e paisagens inebriantes, exibidas a todo momento, sem pudor publicitário.

Em uma cena no bar do hotel, a personagem de Aimee Lou Wood, com seus dentes exagerados de Bardot e um olhar sempre doce e perplexo, está com a modelo canadense interpretada por Charlotte Le Bon. Esta é casada com um ricaço de passado suspeito, que havia aparecido na segunda temporada da série. O caso é que a elegante vigarista pede um mauresque, que por sua vez pede um Google.

O coquetel é bem popular no sul da França. Ele é feito com pastis, aperitivo anisado que os gauleses adoram. O curioso é que a mistura, que ainda leva xarope de amêndoa e água, foi criada por soldados franceses na campanha pela Argélia, nos anos 1830. Era chamado bureau árabe e se dizia que agia como “um punho de aço numa luva de veludo”. Nosso “tapa em luva de pelica”.

Em outra cena da temporada nova de “White Lotus”, essa crucial, a família Ratliff se reúne no bangalô no último dia de férias. O pai promove um brinde de despedida com piñas coladas que preparou no mesmo liquidificador que o filho mais velho faz suas horríveis vitaminas matinais. Os olhares se cruzam, numa desajeitada expectativa. Cada um toma seu gole e faz uma careta discreta. Algo saiu errado.

A piña colada é fatalmente deliciosa. Foi criada nos anos 1950 em Porto Rico e ganhou o mundo como símbolo do lado paradisíaco das terras quentes. Estilosa, aparece numa letra de Warren Zevon: “Vi um lobisomem tomando piña colada/no Trader Vic’s/Seu cabelo estava perfeito”.


Piña colada

60 ml de rum

90 ml de suco de abacaxi

20 ml de leite de coco

15 ml de suco de limão

Bata os ingredientes com gelo moído no liquidificador. Sirva num copo highball com um pedaço de abacaxi de guarnição


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