Carta ao Leitor: Falta de direção

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Da Redação

Em seus dois primeiros mandatos, Luiz Inácio Lula da Silva surfou na popularidade alta no Brasil e no exterior. Lá fora, exemplo desse prestígio conquistado naqueles anos ocorreu em 2009, no G20 em Londres, quando o então presidente americano Barack Obama o elogiou de forma efusiva: “Esse é o cara!”. Anos depois, em uma entrevista, Obama manteve o tom elogioso ao se referir a Lula (“tem o dom de se conectar com o povo brasileiro”), mas fez questão de dizer que não sabia das denúncias de corrupção na época em que classificou o “cara” como o político mais popular do planeta. O encanto se quebrou, portanto. Por causa disso, desde o primeiro dia de retorno ao Planalto, o petista deseja a todo custo recuperar o brilho perdido no cenário mundial. Ele já realizou mais de trinta viagens ao exterior, mas até agora colheu resultados pífios nessa estratégia, a despeito de todo o esforço no investimento de milhagem e do discurso ufanista.

O choque de realidade veio na forma de um artigo da respeitada revista britânica The Economist, que fez um balanço duro e preciso do saldo colhido por Lula dentro desse plano classificado por ele de “reposicionar o Brasil no cenário internacional”. Segundo a reportagem em questão, o presidente é “incoerente no exterior” e “impopular no Brasil”. O texto cita como exemplo a condenação do Itamaraty aos ataques de Israel e Estados Unidos contra o Irã, na direção contrária das posições adotadas pela maioria das democracias ocidentais. No cenário doméstico, a The Economist lembra a queda de popularidade do petista registrada em pesquisas recentes. Difícil refutar esse conjunto de fatos, mas o governo brasileiro resolveu passar um recibo do incômodo provocado enviando uma carta em resposta à publicação, na qual argumenta que “Lula sustenta com coerência os pilares de democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo”.

O episódio ilustra a total falta de foco da atual gestão petista, que resolveu brigar com a The Economist, enquanto lhe falta energia para encarar seriamente os grandes dilemas do país. O problema não está lá fora, está aqui dentro, sendo que o desgoverno só contribui para agravar a situação. Sem ideias novas, sem apoio no Congresso Nacional e sem um plano consistente para combater a inflação e o desarranjo das contas públicas, entre outras questões, parece ter restado a Lula engatar a marcha da recaída populista. Como mostra reportagem da edição, o petista vem recorrendo com frequência ao surrado bordão de que as dificuldades atuais ocorrem porque governa para pobres em um país no qual os ricos não querem abrir mão de seus privilégios. O discurso não passa de uma tentativa rasa de atribuir a outros seus problemas, sua ineficiência. Para quem deseja ficar mais quatro anos na Presidência, isso é muito pouco. O relógio corre contra ele, pois o atual mandato cada vez mais se aproxima da reta final. Gastar esse tempo brigando com críticas justas da imprensa é a melhor forma de desperdiçá-lo.

Publicado em VEJA de 4 de julho de 2025, edição nº 2951



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