Fábio Pescarini
Puxar papo com o jornalista Celso Fonseca a princípio era simples, pela sempre boa conversa. A tarefa, por outro lado, poderia se tornar complexa se a pessoa não conseguisse acompanhar a vastidão cultural dele.
Vindo do interior, Fonseca fincou raízes na cidade grande, como se tivesse brotado dela. Nascido em Ribeirão Preto, logo se mudou com a família para Jundiaí. Cursou jornalismo na Fundação Cásper Líbero, em São Paulo.
Como escreveu, “era jornalista desde o tempo do onça, do telex, do fax e do mundo analógico. Foram perto de 40 anos de profissão nas maiores e mais extravagantes Redações, da imprensa local, nanica, aos grandes veículos”.
Fonseca, entre outros veículos, trabalhou no Jornal da Tarde, nas revistas IstoÉ e Brasileiros e há cerca de dez anos atuava como editor-chefe do portal R7.
Em março, atualizou seu perfil no Facebook com uma foto de 1993, quando fez parte da bancada do programa Roda Viva, da TV Cultura, que entrevistou a cantora Nana Caymmi (1941-2025).
Também foi jurado do Troféu Imprensa, premiação que condecora as principais atrações da televisão brasileira no SBT, consagrada por Silvio Santos (1930-2024).
O jornalista gostava de rock e jazz. Comum era vê-lo garimpar discos de vinil em lojas e sebos do centro de São Paulo.
Foi o cuidado extremo com textos —principalmente os seus— que o aproximou da acupunturista Débora Súconic, 61. Os dois se conheceram por causa de um amigo comum que intermediou um trabalho de revisão de livro. Foram quase duas décadas de relacionamento e cumplicidade. Tratou como pai a enteada Maria Eugênia, atualmente com 38 anos.
Amigo desde os tempos de colégio na década de 1970, o publicitário Maurício Meleiro, 63, lamentou terem descoberto tarde demais que a banda americana Kid Creole and the Coconuts se apresentaria em um palco da Virada Cultural no fim de semana passado.
“Seria uma boa oportunidade para rememorarmos o show de 1986, no Palace, quando o Kid Creole veio pela primeira vez ao Brasil, e nós estávamos lá”, afirma.
Mesmo assim, além de algumas taças de vinho e latas de cerveja, o último domingo (25) foi embalado por discos de Miles Davis e Herbie Hancock, e, como bons corintianos, comemoraram a vitória do Flamengo sobre o Palmeiras.
Não que fossem rubro-negros, mas corintianos. Mesmo a distância, os amigos trocavam mensagens e telefonemas sobre o time antes, durante e depois de jogos do Timão. Estranhamente, não houve resposta na última terça-feira (27).
O jornalista era aficionado pelo centro de São Paulo —morava em um apartamento na avenida São Luís e era colaborador do blog A Vida no Centro. Além de escrever sobre temas como a cracolândia, dava dicas de onde comer na região, por exemplo.
E no centro paulistano ele ficou. Na terça passada, caiu quando caminhava pela rua Sete de Abril, vítima de um infarto fulminante. Celso Luís de Moura Fonseca morreu aos 61 anos. Deixa Débora Súconic e Maria Eugênia.
“Muito obrigada por ter passado por aqui e cuidado da minha filha com amor e respeito”, escreveu a mulher em sua conta no Instagram.