Crise Brasil-EUA: Casa Civil quer retaliar EUA, Fazenda recomenda “muito cuidado”

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José Casado

Rui Costa, chefe da Casa Civil da Presidência da República, desenhou um roteiro governamental para a sexta-feira, 1º de agosto, o “Dia D” da sanção imposta por Donald Trump ao Brasil, uma sobretaxa de 50% para todos os produtos nacionais nos Estados Unidos.

“Se for confirmada e implementada essa tarifa”, disse o chefe da Casa Civil à rádio baiana Serra Dourada, “medidas de reciprocidade serão, sim, tomadas.” Acrescentou: “Já que eles não querem ter relação comercial com o Brasil, o Brasil também não precisa continuar comprando deles, pode comprar de outros países”.

Pouco depois, Costa publicou numa rede social: “A soberania nacional não se negocia. Ontem mesmo realizamos uma reunião com o presidente @lulaoficial. Estamos tranquilos e tratando de diversas medidas voltadas à proteção das empresas e dos produtores brasileiros, ao fortalecimento e à diversificação das relações comerciais internacionais, ao adensamento da nossa cadeia produtiva industrial, além de medidas de reciprocidade, caso as tarifas sejam confirmadas. Guerra comercial não é boa para ninguém. Gera prejuízo para todos — inclusive para os EUA.”

O plano resumido pelo chefe da Casa Civil de Lula para um confronto com os Estados Unidos no comércio parece rústico ao menos para a Bahia, estado que ele governou por oito anos seguidos antes de migrar para o Palácio do Planalto.

Num cenário de “guerra comercial”, a economia baiana poderia perder ao menos 4,7 bilhões de reais, equivalentes a 882 milhões de dólares, em vendas ao mercado americano e sem ter mercado alternativo para a produção que hoje é exportada.

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Um quarto desse valor evaporaria do caixa da indústria química, origem do PT da Bahia e base do grupo de sindicalistas que há duas décadas domina o governo estadual, entre eles, o ministro Costa e o senador Jaques Wagner.

Na lógica do chefe da Casa Civil não seria necessário “continuar comprando deles”. Aplicada à economia baiana significaria suprimir compras anuais nos EUA de cerca de 15 bilhões de reais, ou 2,8 bilhões de dólares. Cerca de 80% desses gastos se referem a importações essenciais para a indústria local de petróleo e gás, sem fonte alternativa segura de suprimento no médio prazo — descontados, por óbvio, Rússia, Irã e Venezuela.

O plano de batalha esboçado por Costa contrasta com a mensagem de pacificação que o ministro da Fazenda se esforçou para divulgar nesta terça-feira (29/7). Os termos de uma eventual resposta a Washington “estão sendo discutidos”, admitiu Fernando Haddad às jornalistas Débora Bergamasco e Taís Heredia, da CNN. Ressalvou: “Mas precisamos ter muito cuidado com isso. Esse tipo de coisa, (responder) na mesma moeda, não está na ordem de considerações, pois estamos pensando no povo brasileiro.”

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A contradição entre a Casa Civil e a Fazenda na abordagem da crise e das alternativas seria naturalmente grave, mas ganhou realce com a reunião entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e executivos das principais empresas digitais americanas. Ele extraiu uma lista de desejos das ‘big techs’ para negociação com o governo.

Alckmin desenvolveu o hábito de se alternar, nas crises, entre o papel do anestesista na política e o do político anestesista. Esgrimindo com pragmatismo na reunião de ontem com as ‘big techs’ americanas, o vice-presidente produziu o único avanço real do governo Lula no pandemônio econômico criado por Trump.



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