Discussão sobre alternativas a Bolsonaro se dá sob…

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Marcela Mattos

Inelegível desde 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta o maior torpor de sua carreira em meio à acusação de ter cometido cinco crimes ao supostamente tramar um golpe de Estado ao fim das eleições de 2022. Caso o Supremo Tribunal Federal siga a denúncia, o desfecho mais provável, o ex-capitão pode pegar mais de 40 anos de prisão. Enquanto tem motivos de sobra para se preocupar, ele reluta em jogar a toalha. “Só eu [estando] morto você vai saber quem vai ser o outro candidato. Porque eu não sendo candidato é uma negação da democracia. Plano B é Bolsonaro”, disse recentemente, reafirmando sua candidatura.

Se depender apenas de Bolsonaro, o nome dele vai constar nas urnas em 2026. Mas, acreditando que a realidade vai se impor, muita gente que orbita o entorno do ex-presidente já começa a calibrar a bússola para novas direções. Esse movimento acontece longe dos olhos de Bolsonaro, mas com o cuidado de não contrariá-lo. Faltando um ano e meio para a próxima campanha eleitoral, o ex-presidente hesita a pavimentar o caminho para um sucessor. No campo oposicionista há uma miríade de possíveis candidatos, mas, nas raras vezes em que apontou para alguma alternativa, Bolsonaro somente sinalizou indicar alguém com o seu sobrenome para as urnas.

O comportamento do ex-presidente não interdita o debate dentro do seu campo. Como mostra reportagem desta edição de VEJA, os principais expoentes da centro-direita têm se reunido com frequência para traçar as alternativas possíveis. Eles acreditam que têm espaço para crescer e que, na hora certa, vão conquistar o aval do ex-capitão para lançar uma candidatura alternativa – já há até uma cartilha de contrapartidas para o ex-presidente abraçar a causa.

Bolsonaro tenta se manter como o único líder da direita

Um dos nomes favoritos do Centrão é o do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas. Nos últimos dias, voltou a correr a informação de que ele estaria disposto a encarar a missão de disputar o Palácio do Planalto em 2026. À reportagem, três caciques com contato direto confirmam que o governador de São Paulo tem se colocado de prontidão – qualquer passo, porém, somente acontecerá se ele for convocado por Jair Bolsonaro.

Entusiastas da candidatura do governador apontam algumas razões para que ele não faça articulações explícitas. Entre elas, o fato de que há um temor generalizado de que Bolsonaro, afeito às mais diversas teorias conspiratórias, se irrite com o gesto e entre em campo para interditar qualquer articulação em torno de um nome alternativo. Às voltas com um julgamento no Supremo que pode levá-lo à prisão, o ex-presidente acredita que tem mais chances de reverter o quadro caso siga como o único líder da direita ou ao menos mantenha as rédeas do processo eleitoral.

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Assim, políticos no entorno de Bolsonaro afirmam que, se ele vislumbrar qualquer chance de ser deixado pelo caminho, ele tenderia a lançar os filhos Flávio ou Eduardo Bolsonaro ou então a mulher, Michelle Bolsonaro. O entorno de Bolsonaro calcula que qualquer nome indicado por ele terá, na largada, cerca de 30% das intenções de votos. Se de fato optar pela solução caseira, é esperado que Jair Bolsonaro estique a corda o máximo possível, mantenha-se candidato mesmo às voltas com a prisão e apenas substitua o titular em campo no prazo limite – o mesmo caminho adotado por Lula quando estava preso em 2018.

Meio-termo

Antevendo uma dura condenação no STF, aliados de Bolsonaro apostam numa solução intermediária para o futuro do ex-presidente.

Políticos com entrada na Corte planejam levar a ministros uma proposta para que todos baixem a guarda. De um lado, o ex-mandatário encabeçaria um cessar-fogo nos petardos ao tribunal e aceitaria sem barulho a sua inelegibilidade. Em contrapartida, ele não seria levado à prisão, o que evitaria, na cabeça dos bolsonaristas, reações populares de proporções extremas. Há dúvidas, no entanto, se tanto Bolsonaro quanto o próprio STF aceitariam o acordo.

Se der tudo errado, outra ideia colocada na mesa é que Bolsonaro trabalhe por um candidato que tenha maior viabilidade eleitoral e que se comprometa a dar algum tipo de indulto ou alívio da pena ao ex-capitão – quanto maior for a condenação imposta, acreditam os articuladores da proposta, maior a chance de ele acatar um nome de perfil moderado e que tenha a aderência de outros partidos.



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