Thomas Traumann
Sempre que Jair Bolsonaro precisou das ruas, elas responderam. Quando cercou o STF no 7 de setembro de 2021, nas motociatas quando a elite o abandonou durante a pandemia de covid e em fevereiro do ano passado, quando dias depois de planejar pedir asilo na embaixada da Hungria, juntou mais de 200 mil pessoas na Avenida Paulista. Até este domingo. A manifestação na praia de Copacabana, no Rio, foi um fracasso.
O próprio ex-presidente reclamou do baixo público do seu discurso e um assessor tentou vender a estultice de que importante eram “as milhares e milhares de pessoas que” estavam assistindo pelo YouTube. As coisas precisam ser chamadas pelo seu nome: Bolsonaro mostrou fraqueza num momento em que já está acuado pelo processo no STF que ainda neste ano deve condená-lo a mais de trinta anos de prisão.
As estimativas sérias calcularam que entre 18 mil e 30 mil estiveram no protesto de domingo — um terço do que ele reunia até o ano passado.
Durante a semana de preparação, Bolsonaro convocou apoiadores em um vídeo nas redes sociais, reuniu-se com líderes partidários do Centrão, anunciou que tem apoio para aprovar a anistia no Congresso e forçou a presença do governador Tarcísio de Freitas em Copacabana. O governador apareceu no comício com o uniforme número 2 da seleção brasileira, como dizendo que ele é o reserva imediato de Bolsonaro.
O fracasso desde domingo não significa necessariamente que Bolsonaro perdeu o posto de principal líder da oposição, mas indicam que ele está distante da preocupação real da população. Formalmente o ato de domingo era para pedir a anistia aos criminosos que vandalizaram Brasília em 8 de janeiro de 2023 para criar condições para um golpe de Estado. Formalmente, porque na verdade Bolsonaro só se preocupa com ele mesmo e com a possibilidade cada dia mais perto de ir para a prisão.
Só que a anistia é a preocupação apenas de quem tem pena de golpista. Os brasileiros não estão preocupados com a anistia, mas com a carestia, com a alta persistente do custo de vida. É a inflação que está no núcleo da queda da popularidade do governo Lula e aponta a grande chance de a oposição vencer as eleições de 2026.
Bolsonaro quer fazer das eleições de 2026 um plebiscito sobre a sua provável condenação pelo STF. Se ele conseguir isso, a reeleição de Lula será fácil. Bolsonaro é líder popular, mas, ao mesmo tempo, odiado. Se ele decidir deixar a candidatura para um dos filhos, a chance de Lula se multiplica. A chance de a oposição vencer no ano que vem é debater os desapontamentos do governo Lula, não o medo de Bolsonaro ir para a prisão.