José Casado
Em vez de mitigar, Lula preferiu ampliar a crise com o Congresso. Pediu ajuda do Supremo Tribunal Federal para cassar o veto do Legislativo ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras. Ao mesmo tempo, animou o PT e partidos satélites a um exercício de propaganda em redes sociais para expor o Congresso como força política de oposição aos pobres e retratar o presidente da Câmara, Hugo Motta, como “traidor”.
Motta sentiu o golpe, e retrucou nos mesmos canais: “Capitão que vê o barco indo ao iceberg e não avisa não é leal, é cúmplice. E nós avisamos ao governo que essa matéria (IOF) teria muita dificuldade de ser aprovada.” Acrescentou: “Quem alimenta o ‘nós contra eles’ acaba governando contra todos.”
Lula escanteou a chance de negociar com o Congresso a agenda de projetos que interessam ao governo para 2026, ano eleitoral. Em parceria com Fernando Haddad, ministro da Fazenda, escolheu lutar na justiça uma batalha política perdida por acachapante maioria na Câmara e no Senado.
O ministro da Fazenda agora é visto como candidato em campanha para 2026, seja para o lugar de Lula, em eventual desistência da reeleição, seja para a disputa em São Paulo — ao governo estadual ou a uma das duas vagas ao Senado. As chances de Haddad dependem do rumo da encrenca do governo com o Congresso e, principalmente, do desempenho da economia na virada do ano.
Lula, na prática, só tem a perder, ainda que obtenha uma decisão favorável do Supremo.
O choque com o Congresso foi desenhado para “abalar a harmonia entre os Poderes e atentar à soberania do Legislativo”, segundo a interpretação de grupos parlamentares em nota conjunta divulgada nesta terça-feira (1/7). Esse embate vai definir as novas bases da relação do governo com o Legislativo.
Tudo indica que Lula terá uma travessia bastante complicada nos 18 meses de mandato que lhe restam, virtualmente emparedado por estar em absoluta minoria nos plenários da Câmara e do Senado. Foram 383 deputados votando para derrubar o aumento de imposto (IOF) desejado pelo governo. Paradoxalmente, dois terços deles compõem a “base” parlamentar governista. Integram 7 partidos que participam de 14 ministérios e influem em decisões contratuais de uma dezena de empresas estatais.
O estrago está feito e deverá custar caro à agenda eleitoral de Lula, com reações previsíveis durante o processo de decisão legislativa sobre a CPMI da roubalheira no INSS e em projetos relevantes como o orçamento de 2026; a flexibilização da legislação ambiental; e, a compensação da isenção do Imposto de Renda sobre ganhos até 5 mil reais por mês.