Em SP, missa em latim atrai fiéis em busca da tradição – 17/05/2025 – Cotidiano

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Giordano Barros

Mulheres de véu, fiéis com idade entre 50 e 80 anos e uma cerimônia discreta. Na capela Menino Jesus e Santa Luzia, localizada no bairro da Sé, em São Paulo, a sensação é de estar em outro tempo. Ali, de segunda a sexta-feira a partir das 8h30, a missa é celebrada em latim, com o padre voltado para o altar na maior parte da cerimônia.

Na manhã desta quinta-feira (8), pouco mais da metade das 12 pessoas presentes eram mulheres, que se cumprimentavam com discretos acenos, como se já se conhecessem de outras missas. Com duração de 40 minutos, as orações são ditas em latim, e a congregação responde em uníssono.

“Dominus vobiscum” (O Senhor esteja convosco), inicia o padre. “Et cum spiritu tuo” (E com o teu espírito), responde o público.

A farmacêutica aposentada, Denise Gomes, 57, frequenta as missas na capela semanalmente e afirma que os ritos à maneira antiga ajudam na concentração. “É mais tranquilo aqui. A gente tem que ver o sagrado que está ali na frente e não se distrair dele”, afirma

Ela procurou uma igreja tradicional em 2023, e desde então decidiu começar a estudar por conta própria o latim. “Assim eu consigo acompanhar melhor a missa.”

Quem não tem fluência também participa sem dificuldades. “Aprendi algumas palavras e tenho o livrinho de acompanhamento”, diz o aposentado Leonardo Bezerra, 71.

No folheto, os textos em latim acompanham a tradução em português. Para ele, isso proporciona uma conexão mais profunda com o sagrado.

“Eu passei muitos anos na missa comum, fui percebendo muita bagunça, músicas inadequadas. Eu saía com a cabeça quente. Mas me encontrei quando vim nessa em latim”, conta.

O idioma também foi uma oportunidade para Leonardo se aprofundar na história da Igreja Católica. “Frequentando as celebrações na língua, pude ver como começaram esses ritos e me ligar ainda mais com a religião”.

Por séculos, o latim foi a língua oficial das missas católicas em todo o mundo. Esse costume começou no século 16, após o Concílio de Trento (1545-1563), reunião da Igreja que padronizou a celebração do chamado rito tridentino. A ideia era unificar as práticas religiosas, garantindo que, independentemente do país, os atos litúrgicos fossem celebrados da mesma forma.

Além da obrigatoriedade do idioma, o padre deveria estar voltado para o altar e de costas para a assembleia. “O padre é como o pastor. As ovelhas seguem o pastor. Então, tanto os fiéis como o padre, estão voltados para Deus [no altar]”, explica o celebrante da capela, o padre José Henrique do Carmo,.

Essas tradições permaneceram até o início dos anos 1960, quando o Concílio Vaticano 2º (1962-1965) propôs mudanças na Igreja. Um dos principais objetivos era aproximar os católicos da liturgia. Para isso, a constituição Sacrosanctum Concilium permitiu o uso das línguas locais.

Em 2007, o papa Bento 16 autorizou a realização do rito tridentino de forma mais ampla. Já em 2021, o papa Francisco publicou um documento com novas regras à celebração, que passaram a ter mais limitações —ela passou a depender, por exemplo, da autorização específica de um bispo.

“Muitos dizem que o papa Francisco perseguiu esse rito. Eu diria que ele preservou, apenas impôs regras”, afirma o monsenhor Jonas dos Santos, que há mais de 40 anos conserva o culto antigo.

Tradicionalmente, o rito tredentino é defendido por alas mais conservadoras da Igreja.

Embora a cerimônia siga o costume com rigor, o sacerdote esclarece que partes dela podem ser feitas em português, como a leitura de salmos ou cânticos católicos brasileiros.

Mas é o latim que chama atenção, diz ele. “As pessoas gostam, no bom sentido, do místico, do coisa que não entendemos. Nem todo mundo que vai ao Rock in Rio entende o que é cantado, mas gostam.”

Há muitas expectativas em torno da atuação do novo papa Leão 14, mas o monsenhor Jonas considera que é cedo para apontar possíveis interferências do sumo pontífice no assunto. “Não acho que ele vá fazer mudanças radicais nesse sentido, mas nós já professamos nossa obediência ao sucessor de são Pedro.”



Leia Mais: Folha

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