Imprudência fiscal cobra seu preço nos EUA – 18/05/2025 – Opinião

Date:

Compartilhe:

A agência de classificação de risco Moody’s rebaixou em um grau a nota de crédito dos Estados Unidos, retirando-os do seleto grupo de países com a nota máxima. Foi a última das três grandes empresas do gênero a fazê-lo —a S&P e a Fitch tomaram a mesma decisão em 2011 e 2023, respectivamente.

A decisão reflete preocupações de longo prazo com as contas do governo americano, hoje acentuadas por déficits públicos crescentes e pela ausência de medidas eficazes para conter a escalada da dívida pública.

A Moody’s apontou a perspectiva de escalada do endividamento federal, que no ritmo atual deve saltar do equivalente a 98% do Produto Interno Bruto em 2024 para 134% projetados até 2035.

A agência destacou a incapacidade do governo e do Congresso de alcançar consensos para reverter a tendência de déficits fiscais, que, estima-se, chegarão a 9% do PIB em dez anos, ante 6,4% hoje.

Esses fatores, combinados com choques econômicos recentes, criaram um cenário de deterioração. A dinâmica fiscal dos EUA é, de fato, preocupante. O governo tem operado com déficits primários elevados, financiados por emissões de dívida em um contexto de juros em ascensão.

A política monetária do Federal Reserve, que elevou suas taxas para conter a inflação, levou as despesas financeiras a consumirem uma fatia maior do Orçamento federal. Além disso, gastos obrigatórios, como previdência e saúde, continuam a subir, enquanto as receitas não o fazem na mesma velocidade.

A gestão de Donald Trump, que assumiu em janeiro de 2025, adiciona camadas de complexidade a esse cenário. Suas propostas, que incluem cortes de impostos para empresas e indivíduos, podem ampliar o déficit em até US$ 4 trilhões em dez anos se não forem acompanhadas por reduções de gastos ou aumento de outras fontes de arrecadação.

Apesar do rebaixamento, porém, não é certo que haverá turbulências significativas nos mercados de imediato. Historicamente, decisões semelhantes geraram volatilidade inicial, mas não comprometeram a confiança nos ativos americanos. Os EUA detêm a moeda de reserva global, o dólar, e os títulos do Tesouro continuam sendo considerados ativos seguros por investidores.

A demanda por esses papéis permanece robusta, como destacado pela própria Moody’s, já que a nova nota ainda é de altíssima qualidade e não deve alterar a disposição dos agentes nem impor restrições regulatórias.

No entanto a ampliação dos custos de financiamento já em curso —a despesa com juros já consome 18% das receitas de impostos, ante 9% em 2021— é um peso crescente que trará problemas maiores a médio prazo.

Países ricos têm naturalmente maior capacidade de endividamento público do que emergentes como o Brasil. Mesmo no caso da maior potência global, porém, a imprudência fiscal cedo ou tarde cobra seu preço.

editoriais@grupofolha.com.br



Leia Mais: Folha

spot_img

Related articles

Paris reabre o rio SEINE para natação pública – DW – 07/05/2025

França A capital Paris reabriu o rio Sena para os nadadores no sábado pela primeira vez em...

O aumento do número de mortos nas inundações do Texas, pois as crianças permanecem desaparecidas – DW – 05/07/2025

Pelo menos 24 pessoas morreram e mais de 20 crianças de um acampamento de verão estão desaparecidas...

A Alemanha vê surto de casos de furto em lojas – DW – 07/03/2025

Alemanha nunca teve mais furtos de lojas do que em 2024. Uma pesquisa anual com 98 varejistas...

Trump assina ‘Big Beautiful Bill’ em lei – DW – 07/05/2025

NÓS Presidente Donald Trump assinou a Vastagem de impostos e fios de gastos Até sexta -feira, um...

Site seguro, sem anúncios.  contato@acmanchete.com

×