Sob um viaduto movimentado no bairro da classe trabalhadora do Rio, Madureira, longe da praia de Copacabana e do Redentor, as pessoas estão dançando juntas.
O coletivo está se movendo para uma coreografia definida: um passo à frente, um para a esquerda, meia curva, um balanço dos quadris e depois para a direita.
Estou aqui hoje à noite, ao lado do coreógrafo Eduardo Gonçalves. Aqui em Madureira, um bairro também conhecido como “O local de nascimento de Samba”, todo mundo o conhece. Ele criou o “Passinho” – português para movimentos de dança – para a música “Escapism” da cantora britânica Raye.
Mas Samba não está no cardápio da festa de dança Madureira. Aqui, milhares de pessoas da comunidade negra e marrom do Rio se reúnem todos os sábados à noite para dançar aos sons do R&B enquanto os ônibus passam. É um fenômeno que recebeu pouca atenção lá fora Brasilgeralmente conhecido por samba e funk.
Honrando a cultura negra do Brasil
Nesta noite quente de verão, os dançarinos estão secando o suor pingando de seus rostos com toalhas penduradas casualmente sobre os ombros.
“Até 5.000 pessoas vêm dançar aqui todo fim de semana, desde 1994”, diz Eduardo.
O charme de Baile sob a ponte em Madureira não é apenas o mais antigo, mas também a maior festa de dança desse tipo. Em 2013, foi declarado UNESCO Patrimônio cultural intangível Até então, o prefeito, Eduardo Paes.
Eduardo lidera o caminho enquanto passamos pela multidão e pela pista de dança antes de chegar às paredes que envolvem a área.
É aí que Eduardo para e me mostra orgulhosamente os grafites nas paredes. Uma vez nu e cinza, a área agora se assemelha a um museu ao ar livre, exibindo ícones de cultura negra: Tupac, Michael Jackson, Grace Jones, Negra Li e outros estão olhando de volta para mim.
História, música e movimento
O movimento Charme, caracterizado por sua cultura de dança coletiva em sincronicidade, tem origem na década de 1980 como uma alternativa de dança lenta na cena da música negra.
Naquela época, dançarinos profissionais e festas nos subúrbios do Rio de Janeiro fundaram coletivos de dança e criaram suas próprias coreografias influenciadas pela dança de dança de rua, samba, hip-hop e salão.
O nome “Baile Charme” foi cunhado por um DJ chamado Corello, que estava intergral ao cenário da música negra do Rio desde a década de 1970. Diz -se que ele anunciou em um Baile – português para a festa de dança – no subúrbio de Méier: “É hora do charme, mova seus corpos muito lentamente”.
Muito antes Tiktok E o Instagram, as coreografias dançaram nessas festas se tornaram “virais”. Mas, de acordo com Eduardo, não há receita para o sucesso de um passinho ou sequência de etapas de dança.
“Se as pessoas gostam de um passinho, elas vão dançar e a coreografia se espalhar”, explica ele.
Dois anos atrás, quando ele criou a coreografia do atual Charme-Onthem “Escapism”, Eduardo estava em um metrô lotado enquanto a música tocava em seus fones de ouvido.
Naquela época, a idéia era criar um passinho Para ele e seus amigos dançarem nas festas. Mas as coisas saíram de maneira diferente.
Eduardo’s passinho Tornou -se tão popular entre “os Charmers”, como os participantes se chamam, que cada vez mais começou a buscá -lo. Hoje, é uma das coreografias mais populares da cena.
As pessoas estão dançando não apenas no Rio, mas também em São Paulo, Brasília ou Minas Gerais, onde estão surgindo movimentos de charme.
‘Histórias estão escritas aqui’
Eduardo ainda se lembra de seu primeiro partido Baile Charme há 25 anos, quando ele ainda era menor de idade.
Ele havia dito a seus pais cristãos pentecostais que ele iria dormir na casa de um amigo. Em vez disso, ele foi à festa com uma identificação falsa na escola, na qual um cinco se transformou magicamente em oito.
“Foi essa inalação da cultura negra, como você a vê nos filmes”, lembra ele. “Pessoas bonitas e bem vestidas dançando … meu Deus, foi tudo o que eu sempre quis!”
Regular do Baile Charme em Madureira desde a primeira noite, ele também ganhou a vida da dança, ensinando e coreografia e coordena um projeto social que oferece aulas de dança de charme gratuitas.
Para Eduardo, o Baile sob a ponte agora é muito mais do que apenas uma festa. “Este lugar se tornou uma terapia. As pessoas que sofrem de depressão vêm aqui para dançar. Amizades e grupos de dança são formados aqui, os casais se encontram”.
“As histórias estão escritas aqui”, acrescenta.
Dançando para curar e esquecer
Muitas das pessoas que converso para explicar como a pista de dança embaixo da ponte impactou suas vidas.
Um deles é Siton Santos, que trabalha em uma fábrica de biscoitos durante o dia e dança em cada minuto livre que ele tem.
Mas dançar nunca foi realmente a coisa de Siton. Foi sua mãe quem o levou ao charme de Baile quando ele era criança. Quando ela faleceu 11 anos atrás, ele tinha apenas 18 anos e caiu em uma depressão severa.
Sob a ponte em Madureira, Siton encontrou consolo. “Aqui, você está cercado por pessoas que só querem dançar e esquecer os problemas da vida cotidiana. Quando eu danço, parece que minha mãe está aqui comigo, dançando e sorrindo.”
Uma coreografia conquista uma subcultura
Por volta das duas horas da manhã, finalmente chegou a hora. O DJ Michell toca a música que todo mundo está esperando. Eduardo bate gentilmente no meu ombro: “Escapismo”.
Quando a batida entra em ação, centenas de pessoas trazem passinho para a vida. Os dançarinos experientes estão na frente, aqueles que aprendem os movimentos permanecem na retaguarda. Eles dançam com tanta autoconfiança que se poderia acreditar que eles tinham os movimentos de dança.
Como se sente quando uma coreografia que você inventou entre compromissos no metrô conquista uma subcultura inteira, eu me pergunto?
Eduardo observa a multidão da dança; Ele balança a cabeça em descrença. “Eu nunca poderia imaginar esse alcance”.
Editado por: Stuart Braun