Irã e Estados Unidos concordaram em continuar as negociações nucleares na próxima semana, disseram ambos os lados neste sábado (26), embora o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, tenha expressado “extrema cautela” sobre o sucesso das negociações para resolver um impasse de décadas.
O presidente dos EUA, Donald Trump, sinalizou confiança em fechar um novo pacto com Teerã que bloquearia o caminho do país persa para fabricar uma bomba nuclear.
Araqchi e o enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, realizaram uma terceira rodada de negociações em Mascate, capital de Omã, por meio de mediadores omanis durante cerca de seis horas, uma semana após uma segunda rodada em Roma, que ambos os lados descreveram como construtiva.
“As negociações são extremamente sérias e técnicas. Ainda existem diferenças, tanto em questões importantes quanto em detalhes”, disse Araqchi à TV estatal iraniana.
“Há seriedade e determinação de ambos os lados. No entanto, nosso otimismo sobre o sucesso das negociações permanece extremamente cauteloso.”
Um alto funcionário do governo americano descreveu as conversas como positivas e produtivas, acrescentando que ambos os lados concordaram em se reunir novamente na Europa “em breve”. “Ainda há muito a fazer, mas mais progressos foram feitos para chegar a um acordo”, acrescentou o funcionário.
Anteriormente, o ministro das Relações Exteriores de Omã, Badr Albusaidi, havia dito que as conversas continuariam na próxima semana, com outra “reunião de alto nível” provisoriamente agendada para 3 de maio. Araqchi disse que Omã anunciará o local.
Antes do encontro dos principais negociadores, conversas indiretas de nível técnico ocorreram em Mascate para projetar uma estrutura de um possível acordo nuclear.
“A presença de especialistas foi benéfica. Voltaremos às nossas capitais para mais análises para ver como as divergências podem ser reduzidas”, disse Araqchi.
Um funcionário iraniano, informado sobre as negociações, disse à agência Reuters anteriormente que as negociações de nível técnico foram “difíceis, complicadas e sérias”.
O único objetivo dessas conversas, disse Araqchi, era “construir confiança sobre a natureza pacífica do programa nuclear do Irã em troca do alívio de sanções”.
Trump, em uma entrevista à revista Time publicada na sexta-feira (25), disse achar “que vamos fazer um acordo com o Irã”, mas repetiu a ameaça de ação militar contra Teerã se a diplomacia falhar.
Pouco depois de Araqchi e Witkoff iniciarem suas últimas conversas indiretas no sábado, a mídia estatal iraniana relatou uma explosão massiva no porto Shahid Rajaee, perto da cidade de Bandar Abbas, matando pelo menos cinco pessoas e ferindo centenas.
Embora tanto Teerã quanto Washington tenham dito que estão determinados a seguir a via diplomática, eles permanecem muito distantes em uma disputa que se arrasta há mais de duas décadas.
Trump, que restaurou uma campanha de “pressão máxima” sobre Teerã desde fevereiro, abandonou um pacto nuclear de 2015 entre o Irã e seis potências mundiais em 2018, durante seu primeiro mandato, e reimpôs sanções paralisantes à economia iraniana.
Desde 2019, o Irã violou as restrições nucleares do pacto do qual Trump se retirara, incluindo a aceleração do enriquecimento de urânio para até 60% de pureza, próximo ao nível de aproximadamente 90% que é considerado adequado para armas, segundo a agência de vigilância nuclear da ONU.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse nesta semana que o Irã teria que parar completamente de enriquecer urânio sob um novo acordo, e importar qualquer urânio enriquecido necessário para abastecer a usina de energia atômica de Bushehr, a única em funcionamento no país.
Teerã está disposta a negociar algumas restrições em seu trabalho nuclear em troca do levantamento de sanções, segundo funcionários iranianos, mas encerrar seu programa de enriquecimento ou entregar seu estoque de urânio enriquecido estão entre as “linhas vermelhas do Irã que não poderiam ser comprometidas” nas negociações.
Além disso, Estados europeus sugeriram aos negociadores dos EUA que um acordo abrangente deveria incluir limites que impeçam o Irã de adquirir ou finalizar a capacidade de colocar uma ogiva nuclear em um míssil balístico, disseram vários diplomatas europeus.
Teerã insiste que suas capacidades de defesa, como seu programa de mísseis, não são negociáveis. Um funcionário iraniano com conhecimento das negociações disse na sexta-feira que Teerã vê seu programa de mísseis como um obstáculo maior nas conversas.