Eduardo Sombini
Muito se falou sobre os evangélicos nos últimos anos —talvez, com ainda mais força, desde o governo Bolsonaro, quando bispos e pastores viraram personagens onipresentes da cobertura política.
No entanto, para Juliano Spyer, antropólogo e colunista da Folha, persiste um desconhecimento sobre o mundo dos crentes ou um preconceito deliberado, que associa à fé evangélica à manipulação de pessoas desesperadas e minimiza a importância do segmento na definição dos rumos do Brasil.
Neste episódio, Spyer apresenta uma espécie de guia para entender o fenômeno evangélico no Brasil, o mesmo espírito do livro “Crentes: Pequeno Manual sobre um Grande Fenômeno” (Record), publicado em coautoria com Guilherme Damasceno e Raphael Khalil.
Na entrevista, o pesquisador diz que o segmento é muito heterogêneo —e precisa ser visto a partir da sua multiplicidade— e aponta as raízes do forte crescimento das igrejas evangélicas no Brasil nas últimas décadas.
Fiz uma pesquisa sobre a igreja como um hub de empreendedorismo. Você tem a pessoa que faz bolo, que faz marmita, que abriu uma loja de açaí, o fisioterapeuta, o advogado, a psicóloga. É um lugar de muito networking. Isso acontece na periferia e na igreja de rico. A igreja também é um lugar onde as pessoas ajudam umas às outras a encontrar soluções para problemas da vida. É um lugar que quem olha de fora, sem conhecer, trata mal e com desdém, mas uma literatura robusta nas ciências sociais indica o quanto esse espaço promove ascensão socioeconômica. O sujeito não está lá porque ele é um coitadinho ou burro e está sendo manipulado pelo pastor para dar dinheiro
Spyer também discute a LGBTfobia e o machismo nas igrejas e fala sobre a dificuldade da esquerda em dialogar com o público evangélico.
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Já participaram do Ilustríssima Conversa Arlene Clemesha, historiadora que identifica uma crise no judaísmo devido à guerra em Gaza, Sérgio Costa, pesquisador das desigualdades do Brasil, Lenin Bicudo, para quem a insatisfação com a medicina tradicional impulsiona a crença na homeopatia, Juliana Dal Piva, jornalista que escreveu sobre o assassinato de Rubens Paiva, Marta Góes e Tato Coutinho, autores de biografia do físico Cesar Lattes, Rafael Alves Lima, que discutiu o boom da psicanálise durante a ditadura militar, Ernesto Rodrigues, autor de trilogia sobre a história da Globo, André Roncaglia, para quem o agronegócio e bets estão transformando a economia brasileira em “fazendão com cassino”, Tiago Rogero, criador do projeto Querino, Jessé Souza, autor de livro sobre o voto de eleitores pobres, entre outros convidados.
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