Lula afaga Tarcísio e lança edital de túnel Santos-Guarujá – 27/02/2025 – Mercado

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Alex Sabino

Em obra em que dividem o orçamento e o bônus político, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lançaram nesta quinta-feira (27) o edital da construção do túnel imerso que ligará Santos a Guarujá. Trata-se de uma demanda quase centenária da região.

A estimativa é que a construção possa ser iniciada em 2026 e finalizada em 2028.

Em reunião realizada neste mês, Tarcísio e Lula haviam feito acordo para que a obra fosse responsabilidade do Governo de São Paulo, para ter maior celeridade. Do orçamento de R$ 5,96 bilhões, R$ 1 bilhão será pago pela empresa que vencer o leilão. Os demais R$ 4,96 bilhões serão divididos pelos governos federal e estadual.

O leilão está previsto para acontecer em 1º de agosto.

Trata-se da maior obra de infraestrutura do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O projeto também faz parte do Programa de Parcerias de Investimentos do Estado de São Paulo (PPI-SP).

Além de anunciar do investimento Lula e Tarcísio usaram o evento para passarem imagem de entendimento. Os dois conversaram ao pé do ouvido em vários momentos, enquanto as outras autoridades discursavam.

“Não se preocupe, Tarcísio. A gente vai tirar muita foto junta. Eu sei que tem muita gente do seu lado que não gosta de você estar sentado comigo. E tem gente do meu lado que não gosta de eu estar sentado com você. [Que a] Fotografia que foi tirada hoje marque um novo momento da história do Brasil”, afirmou o presidente, em um discurso de cerca de 20 minutos em que pouco foi falado sobre o túnel.

Nesta quarta (26), o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Bruno Dantas, havia decidido que o processo de concessão do túnel SantosGuarujá deve ser conduzido pelo estado de São Paulo, por meio de órgãos como o TCE -SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) e a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), que terá um papel regulador sobre a concessão.

Prefeitos e sindicalistas fizeram questão de ressaltar a concordância entre os dois governantes para viabilizar o túnel.

“Mesmo com diferenças pontuais, tiveram um entendimento em nome de São Paulo e do Brasil. São muitas vezes as diferenças, que formam as convergências”, disse o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), listou os R$ 13 bilhões de investimentos e parcerias do governo federal com o Estado de São Paulo. Um deles é o contrato que foi assinado também nesta quinta-feira para a extensão da Linha 2-Verde do metrô da capital (R$ 2,4 bilhões de investimento).

Mas, na política, o evento teve mais aspecto de apoio a Lula, que teve o seu governo com índice de aprovação de apenas 24%, segundo a última pesquisa do Datafolha. O discurso de Tarcísio foi repetidas vezes vaiado, especialmente quando ele mencionou a Sabesp, recentemente privatizada.

“Faltava a cereja do bolo, o mais importante. O túnel Santos-Guarujá era algo esperado há muito tempo. Desde o início, [o governo federal] colocou como prioridade. Já passamos dos R$ 20 bi de investimentos”, disse o governador, citando também R$ 7,5 bilhões investidos na Sabesp e R$ 7 bilhões na avenida Perimetral, no Porto de Santos.

Convidados cantavam o nome de Lula antes do início do evento. Sindicalistas chamados para discursar exaltaram a figura do presidente. Um deles cantou a música usada pelo político em campanhas eleitorais desde 1989.

“O senhor está apto a pedir música no Fantástico”, elogiou o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França (PSB-SP), citando projeto do túnel, integração do porto com as cidades da região e o projeto de voos comerciais para o aeroporto regional da Baixada Santista.

“Eu jamais vou perseguir alguém porque votou contra mim. Jamais vou deixar de ter relação com governador. Não foi para isso que quis ser presidente da República. A gente pode resolver de forma civilizada os problemas do país”, disse Lula.

O túnel terá cerca de 1,5 km de extensão, sendo 870 metros submersos. A travessia deverá ser percorrida, de carro, em dois minutos. Serão seis pistas, três em cada sentido, com a possibilidade de uma delas ser utilizada para transporte em VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). O valor de pedágio será, no início, de R$ 6,10, e gratuita para pedestres e ciclistas.

Será o primeiro túnel imerso do Brasil em que a estrutura é construída com peças pré-moldadas em um dique seco, que depois serão colocadas no canal. A profundidade será de 21 metros.

O primeiro projeto de túnel entre as duas cidades foi divulgado em 1927. Desde então, diferentes ideias foram apresentadas, algumas vezes em formato de ponte. Nenhuma saiu do papel. Nas quase duas horas de espera pelo início da cerimônia, realizada em Santos, foi exibido por várias vezes um vídeo do governo federal que mostrava a dificuldade atual dos moradores da região em fazer a travessia.

O consenso de especialistas presentes no evento em Santos era que o grupo de empresas com capacidade para realizar uma obra de tal envergadura se limita a, no máximo, cinco empresas.

Empresários portuários da região ouvidos pela Folha consideram que o projeto não é o dos sonhos, mas sim, o possível no momento. A principal queixa era sobre a mudança feita pelo Governo de São Paulo em relação ao desenhado original da Autoridade Portuária. No novo modelo, haverá desapropriações de imóveis no bairro do Macuco, onde será feito o complexo viário de acesso ao túnel.

“Pelo menos, agora a gente tem luz no início, no meio e no fim do túnel”, disse o engenheiro Eduardo Lustoza, ex-diretor da Autoridade Portuária e responsável por diferentes campanhas em defesa da construção da ligação seca entre Santos e Guarujá.

Na entrada do Parque Valongo, em Santos, onde aconteceu a cerimônia, moradores que podem ser atingidos pela obra fizeram protestos com buzinas, mas sem conseguir se aproximar da entrada da cerimônia onde estariam Lula e Tarcísio de Freitas.

Cerca de 1.200 famílias também serão retiradas em área de Vicente de Carvalho, no Guarujá, onde vivem em casas sobre palafitas.

O túnel imerso é a cereja do bolo no pacote de bondades anunciado por Lula na visita à Baixada Santista. Em entrevista ao jornal A Tribuna, o presidente prometeu R$ 25,1 bilhões do PAC nas nove cidades da região. Serão R$ 12,1 bilhões em investimentos diretos e R$ 13 bilhões em projetos regionais.

Lula creditou as obras à retirada do Porto de Santos da lista de privatizações do governo federal. Esta era a intenção do então presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) e do seu então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. No período, a preocupação da Autoridade Portuária foi de fazer caixa para se tornar atrativa no leilão de venda, não em realizar projetos no porto. Conseguiu economizar mais de R$ 2 bilhões.

O presidente também pretende modernizar a refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, com investimento de R$ 3,6 bilhões para a produção de bioquerosene de avião e diesel 100% renovável.



Leia Mais: Folha

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