Lula detalha plano do governo para reagir à tarifa de 50% de Donald Trump

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Meire Kusumoto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na noite desta quinta-feira, 10, em entrevista ao Jornal Nacional, que pretende negociar, buscar a Organização Mundial do Comércio e não descarta usar a Lei da Reciprocidade Econômica contra os Estados Unidos, após o anúncio de Donald Trump de que os produtos brasileiros importados serão taxados em 50%.

“É inaceitável que o presidente Trump mande uma carta pelo site dele e comece dizendo que é preciso acabar com a caça às bruxas”, afirmou, em relação à crítica de Trump sobre o processo contra Jair Bolsonaro. “Isso é inadmissível. Primeiro porque isso aqui tem Justiça e a gente está fazendo um processo com direito à presunção de inocência. Se alguém cometeu um erro, vai ser punido. Aqui no Brasil é punido.”

“A segunda coisa é que é inverossímil o fato pelo qual se aumentou a tarifa”, seguiu Lula. “O presidente Trump deve estar muito mal informado, porque nos últimos quinze anos o déficit para o Brasil é de 410 bilhões de reais entre comércio e tarifas.”

“O que que eu vou fazer na verdade? Primeiro, eu não perco a calma e não tomo decisão com 39 graus de febre. O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário e o Brasil vai tentar fazer com que a OMC tome uma posição para saber quem é que tá certo ou que tá errado. A partir daí, se não houver solução, nós vamos entrar com a reciprocidade já a partir de 1º de agosto, quando ele começa a taxar o Brasil.”

“Nós entendemos que o Brasil é um país que não tem contencioso com ninguém, nós não queremos brigar com ninguém, nós queremos negociar e o que nós queremos é que sejam respeitadas as decisões brasileiras. Portanto, se ele ficar brincando de taxação, vai ser infinita essa taxação. Nós vamos chegar a milhões e milhões e milhões de taxa.”

Cúpula do Brics

Questionado sobre a possível influência das críticas de Lula aos Estados Unidos na taxação em 50% durante a cúpula do Brics, Lula rejeitou a hipótese.

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“O Brics é um fórum que ocupa hoje metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial. E dentro do Brics estão países que participam do G20. Dez países dos Brics participam do G20, de que o Trump participa. Segunda coisa, nós temos três países que foram convidados do G7 agora. Quatro países, Brasil, México, África do Sul e Índia. Quarta coisa, o Brics é um agrupamento de países que trabalha em prol do sul global. Nós cansamos de ser subordinados ao norte”, disse.

“As coisas vão continuar melhorando e nós estamos discutindo inclusive a possibilidade de ter uma moeda própria ou quem sabe com as moedas de cada país a gente fazer comércio sem precisar utilizar o dólar, porque nós não temos a máquina de rodar dólar, só os Estados Unidos que têm. E nós não precisamos disso para fazer comércio exterior”, seguiu.

“Agora, achar que o Brics é a razão pela qual o Trump ficou nervoso… o Brasil nunca ficou nervoso com a participação do G7”, disse Lula. “O Brasil nunca ficou nervoso com as coisas que os Estados Unidos faz. Cada país tem soberania de fazer aquilo que quer. Então eu penso que o presidente Trump precisa se cercar de pessoas que o informe corretamente sobre como é virtuosa a relação Brasil-Estados Unidos.”

Interferência na Justiça

Lula rebateu críticas por ter visitado a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, condenada por corrupção no país vizinho, e disse que o fez com autorização da Justiça. “Eu nunca me preocupei que o Trump recebesse o Bolsonaro ou qualquer pessoa. É direito de cada presidente fazer o que quiser. O que não é direito é um presidente querer dar palpite na decisão de Justiça de um país”, afirmou.

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“Aqui no Brasil a nossa Justiça tem autonomia”, seguiu. “O Poder Judiciário é um poder autônomo, como é o Legislativo. E aqui a gente obedece regras. O que o presidente Trump tem que saber é que se aqui no Brasil ele tivesse feito o que ele fez nos Estados Unidos com as eleições, ele também estaria sendo processado, estaria sendo julgado e se fosse culpado, ele seria preso.”

“Você nunca viu eu me meter numa decisão da Justiça americana. Nunca viu. E o que eu espero é reciprocidade, que ele também não se meta nos problemas brasileiros”, afirmou.

Contato com empresários

Lula afirmou que a taxação é global, e que Trump vem aplicando tarifas a todos os países. O presidente disse que pretende reunir empresários brasileiros que exportam itens para os EUA para analisar o cenário.

“Nós vamos tentar fazer todo o processo de negociação. O Brasil gosta de negociar, o Brasil não gosta de contencioso”, disse. “E depois que se esgotarem as negociações, o Brasil vai aplicar a Lei da Reciprocidade. E aí os empresários eu espero que estejam aliados ao governo brasileiro, porque se existir algum empresário que acha que o governo brasileiro tem que ceder e fazer tudo o que o presidente do outro país quer, sinceramente, esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro.”

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“Essa é a hora da gente mostrar que o Brasil quer ser respeitado no mundo, que o Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do mundo e que, portanto, a gente não aceita desaforamento contra o Brasil.”

Relação com Trump

Questionado sobre a falta de tentativa de se aproximar de Trump em sua volta à Casa Branca, Lula afirmou que mandou uma carta de parabéns quando ele foi eleito, mas que não teve “razão” para conversar com Trump até agora.

“Na hora que houver necessidade de conversar com o Trump, eu não tenho nenhum problema de ligar para ele”, disse. “Agora, é preciso ter uma razão para ligar. Os presidentes não ficam ligando para contar piada. Ele, por exemplo, poderia ter ligado para o Brasil para dizer da medida que ele vai tomar. (…) Ele publicou no site dele, uma total falta de respeito, que é um comportamento dele com todo mundo. E eu não sou obrigado a aceitar esse comportamento desrespeitoso. Educação é bom e a gente gosta de receber, gosta de dar e o Brasil quer ser bem tratado.”

“Quando eu tiver um assunto sério para tratar com os Estados Unidos, eu não terei nenhum problema de pegar o telefone e ligar para a Casa Branca pedindo para conversar com o presidente Trump”, disse. “Nós vamos criar uma comissão de negociação juntando empresários e o governo. Vamos ver quais são as decisões, quem é afetado, como é que vai ser afetado, como é que a gente pode procurar novos mercados e eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros.”

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Defesa de Jair Bolsonaro

“O que eu acho um desaforo muito grande e que não dá para aceitar é um cidadão, presidente de um país importante como os Estados Unidos, colocar uma carta para mim mandada por um site avocando o fim da caça às bruxas a um ex-presidente que tentou dar um golpe nesse país”, disse Lula.

“Ele não tentou dar um golpe, ele tentou preparar a minha morte, a morte do presidente da Suprema Corte, que na época era o Alexandre de Moraes, a morte do vice-presidente”, afirmou Lula. Moraes era, na verdade, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época das eleições de 2022, não do Supremo Tribunal Federal (STF).

“E não é ninguém da oposição que tá falando, são os militares que estavam com ele, é o ajudante de ordem dele, que receberam informações dele”, seguiu. “Agora, quem vai ser julgado não é o cidadão Bolsonaro. Quem vai ser julgado é os autos do processo. Se ele tiver razão, será absolvido. Se ele não tiver razão, ele será condenado. E se condenado, vai ser preso. É assim que funciona a Justiça no Brasil. E é assim que eu espero que funcione nos Estados Unidos. Se tivesse um Capitólio aqui e o Bolsonaro tivesse feito o que fez o Trump nos Estados Unidos, ele também estaria sendo julgado, porque a lei aqui no Brasil é para todos de verdade. Doa a quem doer.”



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