A proposta orçamentária apresentada pela administração Trump para a Nasa em 2026 ainda dará muito pano para manga no Congresso, mas a agência espacial americana já se movimenta para reduzir a escala de suas atividades com a Estação Espacial Internacional (ISS). Três medidas já estavam em estudo antes mesmo da apresentação da solicitação de orçamento, com o que a Casa Branca quer reduzir em meio bilhão de dólares a verba para o complexo.
Uma delas é reduzir as tripulações que vão ao espaço com a cápsula Crew Dragon, de quatro para três, a partir de fevereiro de 2026. E a segunda medida tem sabor de ironia: estender a duração das expedições à estação dos usuais seis para oito meses. Com isso, todos os futuros tripulantes da ISS passariam mais ou menos o mesmo tempo a bordo que ficaram recentemente os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams, os supostos “abandonados” pela administração Biden, segundo declarações (sabidamente absurdas) de Trump e Elon Musk.
A terceira seria cancelar atualizações a um instrumento científico acoplado ao lado de fora da estação, o AMS, destinado a buscar pistas sobre a natureza da misteriosa matéria escura. Detectada até hoje apenas de forma indireta, ela representa um dos grandes desafios científicos do século 21.
É uma discussão em aberto se essas medidas são suficientes para readequar as atividades à proposta orçamentária e se são justificáveis do ponto de vista do melhor uso do laboratório. O que já fica claro, contudo, é que os EUA estão em um momento de retração das atividades tripuladas em órbita terrestre baixa. E isso faz forte contraste com a principal concorrente.
Enquanto os americanos falam em reduzir o uso da ISS, a China fala em ampliar a Tiangong, sua estação espacial própria. Em declaração dada no fim do mês passado à televisão estatal CCTV, Wang Jue, representante da Casc (principal corporação contratante do programa espacial chinês), revelou que estão em andamento planos para lançar módulos adicionais ao complexo orbital.
O primeiro nessa fila deve ser um módulo de expansão multifuncional com seis portas de acoplagem, viabilizando ainda mais expansões no futuro. Em paralelo, o programa chinês iniciou o treinamento de astronautas paquistaneses, que devem viajar à Tiangong. A China também está em conversação com outros países para trazê-los a bordo.
Uma nova cápsula em desenvolvimento, por sua vez, terá duas versões, uma para futuras missões lunares (a China quer colocar botas na superfície da Lua em 2029) e outra para levar mais astronautas (talvez até sete) de cada vez à estação Tiangong.
No caminho para a Lua, os americanos ainda estão, por uma margem cada vez mais curta, na trilha para chegar na frente. A missão americana Artemis 2 segue em fase de preparação final para voo em abril de 2026, e deve levar os primeiros astronautas a dar uma volta ao redor da Lua desde a Apollo 17, em 1972. A Artemis 3, que faria a primeira alunissagem tripulada do século 21, ainda tem muitas incertezas, mas segue programada para 2027.
A chance de atrasos é grande. E os americanos podem contar com a pontualidade chinesa para fazer seu primeiro pouso em 2029, na primeira ultrapassagem na corrida espacial desde que os americanos superaram os russos com o programa Apollo, na década de 1960.
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