Victoria Craw
Parte de uma nave espacial lançada em 1972 e que orbita a Terra desde então deve reentrar na atmosfera terrestre nas próximas duas semanas e pode chegar intacta ao solo, segundo cientistas.
O módulo de 495 quilos, conhecido como Kosmos 482, era parte de uma nave inicialmente destinada a Vênus quando foi lançada do Cosmódromo de Baikonur, na então União Soviética, em março de 1972, de acordo com a Nasa.
Agora, espera-se que reentre na atmosfera da Terra entre esta quarta (7) e a próxima terça-feira (13), em um evento que está sendo observado de perto pelos cientistas.
Especialistas acreditam que o módulo pode cair em qualquer lugar entre as latitudes de 52 graus norte e sul do equador, cobrindo uma área do Québec, no Canadá, até a Patagônia. Eles consideram altamente improvável, porém não impossível, que possa atingir alguém.
“Quando reentrar na atmosfera, deve ficar visível, como se fosse uma bola de fogo brilhante”, disse David Williams, chefe do Arquivo Coordenado de Dados de Ciência Espacial da Nasa, ao jornal The Washington Post em um email. É difícil dizer se o objetivo será recuperável, dado que “não foi projetado para um pouso forçado”, acrescentou ele.
“Se partes dele puderem ser recuperadas, será uma oportunidade científica única para examinar os efeitos de muito longo prazo do ambiente espacial (radiação, micrometeoritos, partículas de vento solar) em uma nave espacial”, escreveu Williams.
A Agência Espacial Europeia (ESA) afirmou ser “altamente provável” que o módulo de pouso chegue à superfície da Terra em uma única peça.
“O módulo de pouso foi feito para suportar as condições extremamente severas da atmosfera hostil de Vênus e projetado para 300 Gs de aceleração e 100 atmosferas de pressão”, disse a ESA em um comunicado enviado à reportagem na última sexta-feira (2).
Destino a Vênus
Kosmos 482 fazia parte da mesma missão da sonda atmosférica Venera 8. Esta última partiu da Terra em março de 1972 e tinha design e objetivo idênticos, segundo a Nasa.
A Venera 8 pousou com sucesso em Vênus em julho de 1972 e sobreviveu 50 minutos na superfície do planeta. A missão posterior, lançada quatro dias depois, falhou e a nave se separou em várias peças.
Algumas dessas peças permaneceram em órbita baixa da Terra e se desintegraram dentro de 48 horas. Outras foram parar em uma órbita mais alta, mas não ganharam velocidade suficiente para alcançar Vênus, de acordo com a Nasa.
O objeto que deve reentrar na atmosfera da Terra nas próximas duas semanas é considerado a última peça que falta da nave, o módulo de pouso.
Acredita-se que outras peças tenham reentrado na atmosfera terrestre no início dos anos 1980, de acordo com um artigo publicado em 2022 na Space Review por Marco Langbroek, professor de consciência situacional espacial óptica na Universidade Técnica de Delft, nos Países Baixos.
O professor prevê uma janela mais estreita, de sexta (9) até sábado (10), para a “reentrada descontrolada”, mas fatores como a trajetória do objeto, idade e atividade solar nos próximos dias afetarão isso. Cientistas da Nasa e da ESA esperam que os detalhes sobre o momento e a localização se tornem mais claros conforme o ponto de reentrada se aproxime.
Ainda segundo Langbroek, o revestimento de titânio do módulo poderia protegê-lo. Ele duvida, porém, que o seu paraquedas funcione após mais de 50 anos em órbita.
O astrofísico Jonathan McDowell, do Centro de Astrofísica Harvard e Smithsonian, afirmou, em abril deste ano, que está “moderadamente confiante” que o objeto é o módulo de aterrissagem da Kosmos 482. Ele estima que haja “a chance de uma em vários milhares de atingir alguém”.
“O veículo é denso, mas inerte e não possui materiais nucleares”, afirmou ele. “Não há necessidade de grande preocupação, mas você não iria querer que caísse na sua cabeça.”