Marcela Mattos
A demissão do ministro Carlos Lupi do Ministério da Previdência foi o motivo que faltava para o PDT conseguir impor uma distância regulamentar do governo Lula. Desde o início do ano, importantes caciques da legenda colocavam na balança a aliança com o petista. Pesava, principalmente, o fato de ocuparem uma pasta com baixo retorno político enquanto a gestão do presidente amarga baixos índices de popularidade.
O diagnóstico é que Lula mantém um governo fraco e de baixa adesão popular, e estar colado nele pode acabar prejudicando pedetistas que têm como base redutos mais refratários ao petismo. Além disso, parlamentares do PDT diziam ser boicotados pela articulação política do Planalto, que estaria travando as emendas do grupo enquanto prioriza a distribuição a outros políticos, o que também traz danos eleitorais.
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“A gente fica apoiando um governo impopular e sem ter qualquer possibilidade de fazer disputa nas nossas bases porque os outros estão mais privilegiados do que a gente. Isso é suicídio político”, resume uma influente figura da legenda.
Na última terça-feira, 6, a bancada do PDT na Câmara dos Deputados anunciou que estava desembarcando da base aliada e iria adotar uma posição de independência. Os três senadores do partido, porém, disseram que seguem dentro do barco.
A solução encontrada foi um tanto dúbia: o partido permaneceu no comando do Ministério da Previdência com o ex-deputado Wolney Queiroz, que já foi líder da legenda e era o secretário executivo de Lupi. Ao mesmo tempo, os parlamentares tentam também se afastar dele, e dizem que a escolha foi exclusiva do presidente Lula.
Interlocutores da legenda afirmam que, na nova condição, o partido tem espaço para abrir conversas com outros espectros políticos e pode até vislumbrar um voo mais alto em 2026 numa chapa de centro ou centro-esquerda. O principal líder do grupo é o ex-governador Ciro Gomes, que mantém a rivalidade com Lula.
Fogo amigo
A investigação sobre as fraudes nos descontos do INSS azedou de vez o clima com a legenda. Enquanto auxiliares palacianos diziam, nos bastidores, acreditar na inocência de Lupi, o ministro da Previdência passou mais de uma semana na frigideira sem que esses mesmos auxiliares lhe fizessem gestos públicos. Ao contrário disso, Lula escolheu o novo presidente do INSS sem sequer comunicá-lo.
Em defesa do dirigente pedetista, seus correligionários passaram a espalhar que Lupi foi submetido a um constrangimento desnecessário e levado ao sacrifício. “Nós queremos saber quem é o responsável por deixar esse escândalo ter acontecido, e, na nossa visão, é o próprio governo”, afirma uma influente liderança do PDT, dando o tom do embate.
Durante audiência na Câmara dos Deputados logo após o escândalo estourar, Lupi chegou a dizer que o caso tinha como origem um “fogo amigo”, sem dar mais detalhes.
O agora ex-ministro participou de reunião com a bancada que selou o desembarque dos deputados. No encontro, ele foi enfático ao declarar sua idoneidade: “Não tenham dúvidas, eu não tenho nada com isso. Vão revirar a minha vida, mas não vai sobrar nada para mim”, garantiu.
Em 2011, Lupi foi demitido pela então presidente Dilma Rousseff após explodir um escândalo de pagamento de propina em troca da assinatura de convênios com organizações não-governamentais.
