Por que 37% das brasileiras não querem ser mães? – 13/05/2025 – Mirian Goldenberg

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“Quem vai cuidar de você na velhice? Não tem medo de ser uma velha solitária e deprimida? E se você se arrepender e se sentir um fracasso como mulher? Como você pode não querer ter a experiência mais gratificante de toda a vida de uma mulher? Por que então você não adota? Lógico que você é magra e escreveu mais de 30 livros; você não teve filhos. Nossa, como você é egoísta!”

Nem sei quantas vezes escutei o mesmo tipo de críticas e questionamentos, especialmente das próprias mulheres, inclusive de algumas amigas. Por que, até hoje, a escolha de não ter filhos é considerada ilegítima?

No Brasil, o número de filhos vem caindo desde a década de 1960, com a divulgação dos métodos anticoncepcionais e a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho. A pílula anticoncepcional tornou mais fácil o direito das mulheres de escolherem se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas.

Em 1960, a taxa de fecundidade no Brasil foi de 6,3 filhos por mulher. A taxa caiu para 5,8 em 1970, 4,4 em 1980 e 2,9 em 1990. Entre 2000 e 2020, o número médio de filhos caiu 25%: passou de 2,08 filhos para 1,56. Dados do IBGE, divulgados em 2024, mostram que a fecundidade apresenta a mesma tendência em todas as regiões do país: caminhando para 1,5 filho por mulher.

Uma pesquisa da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) revelou que 37% das mulheres brasileiras não querem ter filhos.

Além do aumento do número de mulheres que não querem ser mães, as brasileiras estão tendo filhos cada vez mais tarde. De 2000 para 2020, a proporção de registros de nascimentos cujas mães tinham menos de 30 anos caiu de 76% para 62%. Já a proporção de registros de nascimentos cujas mães tinham mais de 30 anos subiu de 24% para 38%.

É alarmante o número de mulheres que não são capazes de tomar as próprias decisões sobre seus direitos sexuais e reprodutivos. O Relatório da População Mundial 2023, realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas com dados de 68 países, revelou que 24% das mulheres com parceiros são incapazes de dizer não ao sexo, 25% incapazes de tomar decisões sobre cuidados de saúde e 11% de tomar decisões sobre contracepção.

O preconceito não é só no Brasil. “NoMo” (sigla para “No Mothers”) foi criada por inglesas da Gateway Women, mulheres que estão cansadas de sofrer discriminações e estigmas por não terem filhos.

Nas minhas pesquisas, as mulheres reclamam de falta de tempo, falta de reconhecimento e falta de reciprocidade. Quando perguntei: “Quem vai cuidar de você na velhice?”, elas responderam: “Eu mesma”; e, em seguida, “minhas amigas”. Já os homens responderam: “minha esposa” e “minhas filhas”. As mulheres cuidam dos filhos, dos pais, do marido e não têm tempo para cuidar de si. Pior ainda, não recebem sequer um elogio, um abraço e um “muito obrigado”. Muitas vezes escutam: “só faz a sua obrigação como mãe, esposa e filha”.

Apesar das críticas e pressões, não me arrependi da minha decisão. Mas confesso que, no Dia das Mães, me perguntei: será que eu seria uma boa mãe? Teria a capacidade de criar crianças felizes e saudáveis? Como seria a minha vida se eu tivesse filhos? Sou fracassada e egoísta por não ser mãe? Será que sou magra e escrevi 33 livros só porque não tive filhos?


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