Marcela Mattos
Com o cerco jurídico cada vez mais fechado, o ex-presidente Jair Bolsonaro definiu como estratégia ampliar a realização de atos e manifestações como uma demonstração de força política. A ideia passa por mobilizar milhares de pessoas na rua, reforçar o coro por uma anistia aos vândalos do 8 de janeiro – que, de tabela, pode beneficiar o ex-presidente – e repetir a tese de que Bolsonaro e seus aliados sofrem perseguição por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde que deixou o Palácio do Planalto, Bolsonaro promoveu quatro grandes manifestações em seu favor – todas elas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Agora, a ideia é expandir o roteiro e chegar a cidades do Nordeste, região em que o presidente Lula tradicionalmente sai à frente no eleitorado.
Durante ato em Copacabana no último domingo, 16, o ex-presidente anunciou que organizará uma próxima manifestação em 6 de abril na Avenida Paulista. Depois, disse, vai ao Nordeste – a primeira parada provavelmente será Aracaju, em Sergipe, berço político do relator do projeto da anistia na Câmara, deputado Rodrigo Valadares (União-SE).
A intensificação das viagens será uma resposta à esperada decisão do Supremo de tornar o ex-presidente e ex-ministros réus por uma tentativa de golpe depois das eleições de 2022. Nos dias 25 e 25, a Corte vai julgar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República que enquadrou Bolsonaro em cinco crimes, o que pode render 40 anos de prisão.
Jogo de pressão
Aliados do ex-presidente espalham a tese de que uma eventual condenação pode gerar uma convulsão popular de proporções inesperadas – ter o povo na rua, portanto, ajuda a manter o jogo de pressão contra o Judiciário.
A VEJA, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o pai deve manter o ritmo acelerado de viagens mesmo se virar réu. “A mensagem que leva é exatamente essa: Bolsonaro é perseguido por não ter feito nada, e vai repercutir isso para as pessoas do Nordeste. É um movimento acertado para levar esse recado”, disse.
Flávio reforça ainda que, independentemente do público presente, os atos geram engajamento e conteúdo nas redes sociais. Segundo ele, além dos apoiadores em Copacabana, um total de 3 milhões de pessoas acompanharam o ato em tempo real pela internet, isso sem contar o outro sem número de “cortes”, os vídeos curtos que são disparados para seguidores. “É isso que ele tem que fazer: mostrar para a opinião pública que a gente está do lado certo”, disse.
Apesar da estratégia, como mostra reportagem de VEJA desta edição, o STF também reforça suas armas e montou um arsenal jurídico para conter a pressão por manobras que absolvam ou aliviem as penas para os acusados no inquérito do golpe. No Supremo, há uma principal convicção: todo o esforço será absolutamente inútil.