Victor Lacombe
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe nesta segunda-feira (14) o líder autoritário de El Salvador, Nayib Bukele, para conversas bilaterais na Casa Branca. O encontro acontece em meio às controversas deportações de imigrantes venezuelanos dos EUA para megaprisões no país da América Central —o governo americano sustenta, sem provas, de que se trata de criminosos.
Atento ao vocabulário trumpista, Bukele, um dos líderes internacionais mais celebrados pela direita mundial, começou o encontro no Salão Oval, transmitido ao vivo, dizendo estar pronto para ajudar o país mais poderoso do mundo.
“Somos um país pequeno, mas se pudermos ajudar [os EUA], ajudaremos”, afirmou, em referência à deportação e prisão de imigrantes. “Não se pode esperar que a criminalidade vai cair se você soltar criminosos. É preciso prendê-los”, afirmou, acrescentando uma anedota sobre um suposto criminoso venezuelano enviado a El Salvador depois de ter sido preso e solto seis vezes nos EUA.
Trump, visivelmente confortável e em tom de conversa leve, agradeceu a oferta de Bukele e passou longo tempo atacando seu predecessor, Joe Biden, e o Partido Democrata pelo que chamou de “situação desastrosa” da fronteira. Também aproveitou para atacar a imprensa, aproveitando uma pergunta retórica de Bukele: “por que a imprensa não relata seus números incríveis na fronteira?”, ao que Trump respondeu: “provavelmente por que eles, a CNN… eles odeiam nosso país.”
Bukele e Trump têm relações amigáveis desde antes da chegada do republicano ao seu novo mandato em janeiro deste ano. Em 2024, o presidente de El Salvador esteve na CPAC, importante conferência conservadora dos EUA, e apresentou seu país como uma espécie de modelo para a direita global, dizendo: “em El Salvador, o globalismo está morto”.
Recentemente, Bukele também foi protagonista em um dos embates de Trump com a Justiça na questão imigratória: quando a Casa Branca deportou imigrantes para El Salvador e um juiz federal determinou que os aviões dessem meia-volta, o governo Trump ignorou a ordem —e Bukele ironizou a Justiça. “Ops… tarde demais”, escreveu ele após a chegada dos migrantes, que foram algemados e enviados a um presídio de segurança máxima, no qual foram recebidos como criminosos perigosos.
Entre os imigrantes enviados para prisões em El Salvador, o caso que recebeu mais atenção é o de Kilmar Abrego Garcia. O salvadorenho que vivia nos EUA há anos em situação legal sem nunca ser acusado de qualquer crime foi deportado para seu país de origem e enviado para uma das prisões de segurança máxima de Bukele —a Justiça americana entendeu que a deportação foi ilegal, uma vez que Garcia sofria risco de tortura em El Salvador e não poderia ter sido enviado para lá.
A defesa da Casa Branca diz que Garcia era membro da facção criminosa MS-13 e, embora tenha reconhecido que ele fora enviado erroneamente a El Salvador, insistiu que o Judiciário não tem competência para interferir no caso e “trazer um membro de uma organização terrorista estrangeira de volta ao território americano”.
Para a juíza de primeira instância Paula Xinis, entretanto, a acusação de que Garcia era membro de uma fação tratava-se de “uma alegação sem qualquer base, consistindo apenas no fato de que [o imigrante] usava um casaco com capuz e que um informante disse que ele pertencia ao MS-13 de Nova York, uma cidade onde nunca morou”. Xinis disse que o governo Trump cometeu “um grave erro” que “choca a consciência de todos” ao deportar Garcia.
Na última quinta-feira (10), a Suprema Corte decidiu que o governo Trump precisa trazer Garcia de volta. A Casa Branca, entretanto, vem desafiando a Justiça e diz não ter capacidade de tirar o salvadorenho da prisão.
Em audiência na sexta (11), advogados do governo não informaram à juíza Xinis como pretendem reintegrar Garcia e disseram não ter informações sobre seu paradeiro, apenas que estava vivo.
Para a defesa de Garcia, o governo atrasa o processo apesar de ordens judiciais, enquanto a “vida e a segurança de um homem estão em risco”. Outros advogados também apontam irregularidades. Juízes da segunda instância chegaram a dizer que a deportação equivaleu a um ato de sequestro por parte dos EUA.