Zeca Baleiro faz disco eclético, com Charlie Brown Jr. – 21/05/2025 – Ilustrada

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Thales de Menezes

O novo álbum de Zeca Baleiro, “Piano”, teve seu embrião há dez anos, quando ele e o tecladista Adriano Magoo, há muito tempo juntos em várias colaborações, fizeram uma temporada de oito shows por 12 cidades.

“Um produtor amigo nos propôs um projeto de shows em teatros da Caixa. Era bacana, servia para um descanso do show com banda, que tem mais energia, é mais rock, mas cansa. Você tem que ser mais showman, mais Mick Jagger dos pobres, né?”, brinca Baleiro.

Para ele, num show com piano e voz as plateias costumam ser menores e mais atentas. “Dá para usar uma luz teatral, mais intimista, embora possa ter momentos de explosão e euforia.” Mas ele acha que o contato é muito mais próximo nessas apresentações.

“Eu brinco que hoje as pessoas gostam mais de histórias no show do que de música. Ao contar episódios da carreira ou a gênese de algumas canções, o público fica entusiasmado. E tenho muitas histórias engraçadas, tragicômicas.”

Gravado praticamente ao vivo, “Piano” traz 12 faixas, e a música que abre o disco é “Céu Azul”, no repertório do Charlie Brown Jr., uma escolha sintomática, porque um dos covers mais bem-sucedidos da carreira de Baleiro, ainda nos anos 1990, é “Proibida pra Mim” um hit da banda de roqueira do vocalista Chorão. Na época, o crossover de MPB e rock ainda causava estranheza.

“Eu fui até patrulhado por causa disso. Em um show, uma moçada virou de costas para o palco quando eu cantei essa música, reprovando. Eu não ligava porque o meu apreço por eles era verdadeiro. O Chorão, dentro do que ele fazia, era primoroso. E a gente tem até um início de parceria, uma música que a gente mexeu um pouco e ficou nisso. Está perdida em algum celular antigo meu. Era uma amizade improvável, mas muito bacana.”

Sobre a escolha de “Céu Azul”, ele diz ter percebido que ela ficaria bem numa versão de piano. “Tem uma doçura qualquer ali, um lirismo que o piano faz aflorar.” Nos shows com Magoo, ele traz mais material. “Quis fazer um disco enxuto, de uns 35 minutos, que acho que é o tempo que as pessoas conseguem dedicar hoje a escutar um disco. No palco, fazemos coisas diferentes. Eu canto ‘You Know I’m No Good’, da Amy Winehouse.”

O repertório desse álbum de intérprete preserva muitas músicas dos shows apresentados há uma década, e segue uma seleção de memória afetiva, que resultou em muito ecletismo. Baleiro canta “Frank Sinatra”, canção dos anos 1990 gravada pelo grupo nova-iorquino Cake, ao lado de “Alfonsina y el Mar”, clássico da cantora argentina Mercedes Sosa.

Baleiro se lembrou dessa música que ele ouvia ainda criança em um álbum duplo com hits da cantora argentina, “O Talento de Mercedes Sosa”, que seu irmão trouxe para casa. “Eu e minha irmã éramos pequenos e ficamos encantados com esse disco. A gente ficava cantando tudo errado porque não sabia falar espanhol. Memória afetiva mesmo. Minha mãe gostava dessas músicas, todo mundo cantando no espanhol macarrônico. Uma ousadia gravar isso. Ninguém deveria gravar uma canção que já foi sucesso na voz de Mercedes Sosa ou de Elis Regina.”

Dos primeiros shows com Magoo entraram “Canção no Rádio”, escrita por Fagner e gravada anteriormente num dueto com Baleiro, “Não Adianta”, de Sérgio Sampaio, “Espinha de Bacalhau”, de Severino Araújo e Fausto Nilo, “Dia Branco”, de Geraldo Azevedo e Renato Rocha, e “Me Deixa em Paz”, composta por Monsueto e Airton Amorim, um grande sucesso nacional na voz de Linda Batista.

Baleiro incluiu mais três parcerias: a regravação de “Zás”, escrita com Wado, e as inéditas “Tem Algo Lá”, com Juliano Holanda, e “Tarde de Chuva”, com Eliakin Rufino. Completa o álbum “Ninguém Perguntou por Você”, hit independente da cantora Letrux.

Sozinho ou em inúmeras colaborações em estúdio, Baleiro segue em muita atividade. No ano passado, produziu dois discos em seu selo, Saravá Discos.

“Um do Edson Cordeiro, que foi meio a volta dele a um repertório popular, porque estava trabalhando o lírico na Europa. Um discaço. O outro é o primeiro álbum autoral de Daíra, uma cantora de Niterói que é um fenômeno. Há 25 anos ela seria saudada como foi o surgimento da Cássia Eller ou da Adriana Calcanhotto, mas hoje é difícil se destacar nessa enxurrada de música digital.”

Baleiro já tem mais dois discos gravados em parcerias. Um com Lô Borges, que compôs dez músicas e pensou nele para fazer as letras. “Eu canto em cinco músicas do álbum”, conta. “E eu venho compondo com Vicente Barreto desde a pandemia. Já temos cerca de 40 canções e vamos começar a produzir agora, para lançar no segundo semestre.”



Leia Mais: Folha

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