Vicente Vilardaga
O prédio de 1910 continua imponente, mas hoje, embora tombado pelo Condephaat, está em situação de total abandono, ocupado por uma população de cerca de 300 sem-teto, incluindo muitos estrangeiros. Fica localizado na Mooca, entre a avenida Alcântara Machado e as ruas da Mooca e Barão de Jaguara.
Nesse lugar, outrora endereço da Tecelagem Labor e da Lenços Presidente, funcionou um dos mais nababescos complexos de entretenimento já vistos na cidade. Era a Fabbrica 5, inaugurada com pompa há exatos 25 anos. Impressionava pelo gigantismo e pelas opções de divertimento. Tinha 12 ambientes distribuídos em uma área construída de 3.500 m².
Foi algo impressionante na época pela escala e por reunir várias atividades no mesmo lugar. Era uma espécie de parque de diversões para adultos, que incluía karaokê, pizzaria, salão de beleza, lan house com dez computadores, espaço de exposições e performances e um aquário humano com mulheres vestidas de sereia e nadadores com vista por dentro e por fora da boate. O karaokê ocupava o espaço de uma antiga igreja e a pizzaria ficava entre duas chaminés de 17 metros de altura.
Havia uma pista de dança para os apreciadores de música eletrônica com capacidade para seis mil pessoas. Quem preferisse o som dos anos 70 contava com outra pista para duas mil pessoas. Se o frequentador quisesse relaxar podia se dirigir para um ambiente zen com um jardim japonês, massagistas orientais e um sushi bar. A proposta da casa noturna era reunir todas as tribos.
Os donos da Fabbrica 5 eram o apresentador Gugu Liberato, o ator Miguel Falabella e o empresário e promoter Klaus Ebone, que estavam diversificando seus negócios. A estratégia de marketing do trio, levada adiante, era reunir várias atividades em um mesmo lugar e criar um programa de TV especialmente para promover a casa. Ebone era o apresentador porque Gugu trabalhava no SBT e Falabella, na Globo. “Nós somos apenas proprietários da casa”, diziam.
Enquanto Falabella cuidava da programação da Fabbrica 5, Gugu produzia o programa, que se chamava “Klaus, o Kamaleão”. Era um programa de entrevistas com frequentadores famosos e anônimos da boate e também uma revista eletrônica, que falava de outros locais e eventos da cidade. Ia ao ar toda sexta-feira, entre meia-noite e 2 horas, na TV Gazeta.
Na Fabbrica 5 aconteceu o primeiro baile funk em São Paulo, em 2001. Foi realizado pela equipe Furacão 2000 e contou com os integrantes do Bonde do Tigrão e com dançarinas de funk do Rio de Janeiro. A boate funcionava de quarta-feira a domingo, a partir das 22h. Aos domingos havia uma matinê das 17h às 21h. A balada da Mooca durou até 2006, quando os sócios decidiram encerrar o negócio. Nos anos seguintes o prédio foi ocupado.
Hoje o imóvel está hoje completamente descaracterizado. Segundo o Condephaat, que o tombou em 2014, “os galpões, chaminés e demais remanescentes documentam o início da industrialização paulista, bem como grande parte transformações vivenciadas pelo setor têxtil ao longo do século 20”. Suas fachadas, porém, foram totalmente modificadas, com exceção da rua da Mooca. A Tecelagem Labor funcionou até 1987. A marca Lenços Presidente ainda está no mercado. E a Fabbrica 5 resiste na memória de milhares de baladeiros.
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