Reinaldo José Lopes
A palhaçada de marketing em torno da suposta desextinção do lobo-gigante (Aenocyon dirus), uma desextinção que, conforme expliquei detalhadamente aqui e aqui, não chegou nem perto de trazer de fato a espécie sumida de volta à vida, serviu, ao menos do meu ponto de vista, para refletir a respeito do verdadeiro significado do termo “espécie”. “Spoiler”: provavelmente não é aquilo que você aprendeu na escola. Tento explicar brevemente abaixo.
A maioria das pessoas, ou ao menos quem prestou minimamente atenção nas aulas de biologia dos ensinos fundamental e médio, está familiarizada com o chamado conceito biológico de espécie. Segundo ele, indivíduos capazes de se reproduzir entre si e de produzir descendentes férteis são, por definição, membros da mesma espécie.
É claro que, por essa lógica, jamais saberíamos se os lobinhos supostamente desextintos de fato são membros da mesma espécie dos lobos-gigantes de 10 mil anos atrás porque é impossível cruzar uns com outros sem a ajuda de uma máquina do tempo capaz de viajar para o passado.
Acontece, entretanto, que o mundo do presente já mostrou que essa definição de espécie é relativa. Na prática, basta que os indivíduos de uma espécie não cruzem com os de outra pela MAIOR PARTE DO TEMPO para que se possa falar de espécies distintas. Mesmo com a possibilidade de híbridos férteis, as trajetórias evolutivas são suficientemente separadas para que o conceito valha.
Ou seja, a distinção entre espécies não corresponde a uma barreira absoluta, mas a histórias evolutivas separadas na maior parte do tempo, que às vezes podem se encontrar. O que importa, em outras palavras, é a HISTÓRIA daquelas populações de seres vivos.
E é nisso que a propalada desextinção falha miseravelmente. Ao escolher um conjunto cosmético de poucos genes para alterar, a empresa Colossal Biosciences dá a atender que a história evolutiva divergente, como um todo, não importa. E simplesmente não é assim que espécies de verdade funcionam. Infelizmente, a extinção continua sendo para sempre.
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