A queda singular da inflação argentina – 16/05/2025 – Opinião

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Nobel de Economia em 1971, Simon Kuznets disse que a Argentina era um país singular: tinha tudo para ser desenvolvido, mas vivia sob a instabilidade econômica. Se o país ainda não deixou para trás o diagnóstico, ao menos mostra agora sua singularidade com uma queda surpreendente da inflação.

O índice de preços ao consumidor em abril foi de 2,8%, enquanto o Banco Central argentino e consultorias projetavam taxa acima de 3%, dada a mudança da política cambial em meados do mês. O recuo em relação a março foi de 0,9 ponto percentual.

O dado de abril puxou para baixo a inflação nos últimos 12 meses de 55,9%, em março, para 47,3% e deu início à revisão de estimativas de economistas para o ano —a agência Moody’s prevê 30%, a depender das pressões cambiais e dos preços dos combustíveis.

De todo modo, o resultado deste 2025 tende a ser promissor, quando se leva em conta o inegável impacto da duríssima política de ajuste orçamentária levada a cabo por Javier Milei, que levou a inflação de 211% em 2023, sob o regime de esquerda populista, para 118% no ano passado.

Mas é recomendável cautela. Há preocupação, por exemplo, que exclui variações de preços sazonais e de itens regulados. Esse indicador ficou em 3,2% em abril, acima da taxa oficial.

Note-se também que, em abril, o cenário mudou substancialmente por meio do acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exigiu a correção da arcaica política de controle cambial do país —apesar do risco de uma desvalorização do peso afetar a carestia.

Milei corretamente aquiesceu. A cotação oficial passou a flutuar numa banda de 1.100 a 1.400 pesos, com ajustes mensais de 1%. O teto de US$ 200 para compra de dólares por pessoas físicas no mercado oficial, vigente desde 2019, foi extinto, assim como restrições a importadores.

Logo após o anúncio das medidas, a desvalorização do peso alcançou 8,4%. Desde então, porém, o câmbio oficial se estabilizou na primeira metade da banda, com efeitos marginais sobre a inflação. Mesmo com o fim do teto, os argentinos não correram ao dólar, como fizeram diante de reformas cambiais no passado.

Por óbvio pesam dúvidas sobre a inflação nos próximos meses. Seja por fatores internos, como a reforma cambial ainda incompleta e a dificuldade para atrair investimentos, seja pelas incertezas globais, o governo Milei ainda terá de navegar entre a ousadia e a prudência para de fato estabilizar a economia argentina —este, sim, um feito que será singular.

editoriais@grupofolha.com.br



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