Alimentação saudável esbarra em falta de tempo e acesso – 30/05/2025 – Não Tem Cabimento

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Ana Carolina D., Joana L.

Segundo especialistas, comer saudável envolve o acesso a alimentos naturais e a refeições com todos os grupos alimentares. Na contra-mão, a indústria do bem-estar vende suplementos e outras alternativas “mágicas” para garantir saúde por meio do “corpo perfeito”.

Essa dinâmica desconsidera rotina, organismo, possibilidades financeiras e de tempo enquanto variáveis, tornando a relação com a comida uma imposição falsamente baseada em meritocracia. Isabel de Paula, pesquisadora da UFF, diz que as escolhas alimentares refletem estímulos recebidos pelo cérebro ao longo do dia. Não basta saber o que deve ser consumido se ao longo da rotina você só encontra propagandas de fast food e lojas de doces, diz a nutricionista.

Esse é um dos fatores prejudiciais à alimentação dos mais de 101 milhões de trabalhadores brasileiros. A dificuldade em encontrar refeições saudáveis (e em conta) fora de casa se soma à falta de tempo para a preparação caseira, especialmente nos grandes centros urbanos. De acordo com estudo da USP lançado em 2021 apenas 16% das famílias na capital paulista acessam empregos a 1 hora de suas casas por transporte público.

O nutricionista Luis Castello projeta que preparar refeições para a semana pode demorar pelo menos 5 horas. “É cruel exigir uma alimentação ‘ideal’”, diz. Para ele, o problema esbarra na falta de políticas públicas que garantam não só o acesso à alimentação, mas a diminuição da jornada de trabalho.

Ana Maya, nutricionista especializada em alimentação saudável do Idec, destaca a dificuldade de comunidades periféricas ao acesso a alimentos de qualidade, mapeada em estudo do governo federal sobre desertos alimentares, locais e comunidades cuja disponibilidade e acesso limitados a alimentos saudáveis se contrapõem à oferta abundante de ultraprocessados.

De acordo com Ana, desde a pandemia vivemos sob alta dos itens in natura, enquanto ultraprocessados com base em commodities (como milho e soja) têm incentivos fiscais e tornam-se mais baratos. “Não adianta dizer que arroz, feijão, salada e carne são mais saudáveis se um miojo será mais barato, fácil de achar e preparar”.

Mas, como comer adequadamente diante dessas condições? Para Renata Galvão Cintra, professora de nutrição da Unesp, antes de embarcar nas cobranças, demonização de ultraprocessados e outras soluções, analise quanto tempo você tem disponível para organizar sua alimentação e quais barreiras encontra. “É melhor pensar em estratégias individuais do que restringir”, diz.

Comprar frutas que não precisam ser descascadas, folhas que demoram para estragar e congelar porções extras são algumas sugestões.

Para Ana, buscar feiras de produtores pode facilitar o acesso a itens naturais com preços menores. Ela também aconselha que o preparo das refeições seja semanal, envolvendo todos da casa.

Se couber no cronograma, outra dica de Renata é preparar lanches com itens de fácil acesso, nutritivos e que possam ser transportados (como pão, tapioca, atum ou sardinha). Diante de opções prontas, opte pelo que não tem rótulo. Caso todas as opções sejam industrializadas, a saída é aprender a ler as informações para escolher o menos prejudicial. “É preciso fazer as pazes com a comida”, diz.


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