Áreas VIP: pelo menos os ricos querem ir a igrejas – 12/04/2025 – Cotidiano

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Que ricos problemas têm as igrejas evangélicas brasileiras: algumas delas têm área VIP. Em vez de juntar a minha voz ao coro óbvio da condenação, quero tentar outra afinação e outra abordagem a este assunto tão inesperado. Não defenderei a prática mas, pelo menos, tentarei defender que cair nela pode vir de uma realidade privilegiada.

As igrejas evangélicas brasileiras são privilegiadas porque têm problemas que a larga maioria de templos no resto do mundo gostaria de ter e não consegue.

Ao expor o fenômeno na imprensa, a Folha facilitou a reação —e ela não se fez esperar. Gerou-se um problema para as igrejas com a estranha prática de ter área VIP porque a resposta foi muito negativa.

Na realidade, a prática de uma igreja ter área VIP é tão estranha que até quem nunca leu a Bíblia suspeita de que haja nas suas páginas um conselho contrário. A bizarria gerou a circunstância incrível de colocar até quem não lê as Escrituras a querer citá-las.

Subitamente, as igrejas evangélicas com área VIP ganharam um problema duplo. O problema já tinha acontecido só por terem colocado essa prática em marcha, mas aumentou diante da condenação popular. O problema reproblematizou-se.

Ainda assim, não deixa de ser um rico problema. Quem, como eu, pastoreia igrejas na Europa não tem o luxo de problemas destes. Na Europa, há poucas igrejas evangélicas e, em termos absolutos, talvez haja até menos pessoas VIP. Curiosamente, as pessoas VIP que existem não têm qualquer interesse em ir até as poucas igrejas evangélicas que conhecem.

No Brasil dá-se o prodígio de até os ricos quererem ir a igrejas evangélicas. Eu não me importava de ter de lidar com problemas assim. Em Portugal nem os pobres querem entrar nelas.

Jesus disse que era mais fácil entrar um camelo pelo buraco da agulha do que um rico no céu. Algumas igrejas evangélicas no Brasil querem alargar o acesso. Não deviam. Mas, pelo menos, há gente querendo entrar nele. Que fantástico fenômeno de excesso de demanda!

Enquanto os pobres e os ricos no Brasil tiverem vontade de ir à igreja, com ou sem áreas VIPs, isso significa pobres e ricos menos céticos e cínicos. Eu, que estou longe, gostaria de estar próximo dessa vantagem.

Uma vez mais, Soren Kierkegaard, santo patrono dos evangélicos rezingões, inspira-me quando elogiava os que “aprendem a necessitar de misericórdia”. As pessoas que “não conseguem absolver-se a si próprias” buscarão abrigo fora delas mesmas, seja em templos, seja onde for. Poderão ser vistas como coitadas aos olhos da maioria, mas são os outros, os que nem com área VIP pensam em ir à igreja, aqueles que realmente me assustam.



Leia Mais: Folha

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