Banheiro da PUC-SP é pichado com ameaças a árabes – 19/03/2025 – Cotidiano

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Fernanda Mena

Um banheiros do campus da PUC de São Paulo foi pichado com ameaças e mensagens de ódio contra árabes nesta segunda-feira (17). O caso foi divulgado inicialmente por entidades em defesa do povo palestino e confirmado pela direção da instituição, que disse repudiar este tipo de manifestação.

A frase “a PUC não é para árabe” foi escrita próximo a outras em que se lê “a PUC é nossa” e “a reitoria é nossa”, acompanhadas de estrelas de David.

As pichações desta segunda foram reveladas em postagens em redes sociais da Federação Árabe Palestina (Fepal) e do coletivo Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP) da própria PUC.

Também foi pichada a frase “hora de limpar PRI”, que a Fepal interpretou como uma referência aos professores do programa de Relações Internacionais.

A PUC concluiu recentemente um processo de investigação de denúncias de antissemitismo feitas contra alunos e dois professores do curso de Relações Internacionais, Bruno Huberman e Reginaldo Nasser.

As denúncias chegaram à Fundasp, (Fundação São Paulo), mantenedora da universidade, por meio da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp). Ao final da sindicância, a PUC afirmou não ter identificado situações que justificassem a aplicação de medidas disciplinares aos investigados.

Ao anunciar o final da sindicância, a Fundação instituiu um Protocolo Antidiscriminatório, que será anexado ao seu Código de Ética e que será de cumprimento obrigatório.

Nasser se dedica há 35 anos a estudos de conflitos internacionais e da geopolítica do Oriente Médio. Huberman é professor do curso de Relações Internacionais, integra o grupo Vozes Judaicas por Libertação e coordena, com Nasser, o Grupo de Estudos de Conflitos Internacionais (Geci).

“Está um ambiente muito complicado na PUC”, afirma Nasser. “Esse tipo de manifestação não existia na PUC. Parece haver um sentimento de segurança e empoderamento para que essas pessoas entrem no banheiro e escrevam essas coisa”, avalia.

“No meu caso, se sentiram fortalecidos porque houve um inquérito e acham que, com isso, podem calar a minha voz e impedir que eu continue minha pesquisa. E isso acontece no exato momento em que Israel rompe a trégua, quando é claro que eu vou criticar Israel por isso”, afirma.

Lucca Bueno, 19, estudante de serviço social e membro do coletivo Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino disse que encontrou as pichações na tarde desta terça (18) que levou o caso à pró-Reitoria de Relações Comunitárias.

Ele também disse que outras pichações semelhantes foram feitas no mês passado na universidade. “A PUC precisa tomar providências e não dar vazão para este tipo de coisa”, afirmou o estudante.

Em nota, a direção da universidade disse que apagou as pichações e que o caso será investigado. “A Reitoria da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo repudia com veemência toda e qualquer manifestação discriminatória e racista, como a frase contra os povos árabes escrita anonimamente em um dos banheiros da universidade”, diz a nota. “Ofensas atrás de anonimato denotam covardia. Esse ato será apurado internamente com a maior urgência para que medidas cabíveis sejam tomadas.”

No fim do ano passado, uma reportagem da Folha mostrou que o mal-estar e os traumas provocados pelo ataque terrorista do Hamas e pela ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, tomaram parte da comunidade acadêmica da universidade.

A guerra aumentou a tensão do tema no campus. De um lado, certas manifestações de apoio ao povo palestino e críticas aos bombardeios de Israel foram tomadas como antissemitismo, isto é, como discursos de ódio aos judeus.

De outro, estudantes que se declararam sionistas (movimento político que defende o direito à autodeterminação do povo judeu em um Estado) foram apontados como apoiadores dos ataques a Gaza.

Diante do anúncio do novo Protocolo Antidiscriminatório, o professor Huberman criticou o fato de ele adotar parte da definição de antissemitismo da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês).

A definição, que não tem caráter vinculativo, foi adotada por pelo menos cinco estados brasileiros desde 7 de outubro de 2023, entre eles, o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo. Segundo o IHRA, “o antissemitismo é uma certa percepção dos judeus, que pode ser expressa como ódio contra eles”.

Entre os exemplos do que é considerado antissemitismo pela aliança estão manifestações dirigidas ao Estado de Israel “concebido como uma coletividade judaica” ou como “um empreendimento racista”. Críticos dessa definição, dentro e fora da comunidade judaica, argumentam que ela prejudica o debate sobre o conflito entre israelenses e palestinos.



Leia Mais: Folha

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