Calor: Fim do petróleo ou Carnaval em agosto – 09/03/2025 – Giovana Madalosso

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Giovana Madalosso

Ao fim do Carnaval, a brasileira deveria ser recebida com uma medalha. Sobreviveu às mãos bobas, às apalpadas, aos ladrões de celular e, este ano, ao mais novo inimigo da folia: o calor.

Sei do que estou falando. No outro final de semana, atravessamos o deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara, os nossos ombros, toda e qualquer pele que escapasse pela nossa fantasia.

O refrão de Allah-La-ô nunca foi tão real: janeiro de 2025 foi o mês mais quente da história. E o domingo de folia o mais quente da série histórica para o mês de março.

Eu já estive em um dos lugares mais quentes do mundo, o mar Morto, e nada se compara a atravessar a avenida São João com o sol a pino, atrás do trio elétrico, em um verão turbinado pela crise climática. Alguma coisa acontece no meu coração e não é boa: o calor pode derrubar a pressão, elevar a frequência cardíaca e provocar desmaios ou tontura.

No meu caso, senti tontura. E senti falta do poder público. Como celebrar o maior show da terra com sensação térmica de 50°C? Será que eu serei o dono dessa festa? Ou interesses alheios seguirão dando o ritmo no meio dessa gente tão modesta? Eu vim descendo a serra, cheia de euforia para desfilar, e acabei tendo que parar dez minutos depois, empoleirada na sombra exígua de uma marquise, apertando o meu patuá.

Mamãe, eu quero, o fim da extração do petróleo, o maior vilão da crise climática. Presidente, eu quero uma transição ágil para energia limpa. Prefeito, eu quero muito mais do que copinhos de água. Quero árvores, planos para mitigar o calor na cidade, diálogo para os blocos escolherem horas mais amigáveis e frescas para os seus trajetos.

Eu quero é botar meu bloco na rua e saber que meus filhos vão botar também. Não quero que digam que eu dormi de touca, que eu perdi a boca, que eu fugi da briga, que eu caí do galho e que não vi saída.

Não quero que daqui a dez anos o balancê balancê precise acontecer dentro de um shopping –entra cliente pra ver!— por motivos de ar-condicionado, com ingressos à venda. Já pensou a alegria do nosso prefeito, finalmente podendo colocar marcas e patrocínios em todos os estandartes? Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí?

Não vai dar, não vai dar não, precisamos ir para as ruas, em peso, como nos dias de Carnaval, para protestar e evitar a grande confusão. E para garantir os nossos próximos Carnavais. Democráticos, no asfalto, caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, no sol de quase dezembro, fevereiro e março.

Alô, alô, torcida do Flamengo: ou acordamos ou aquele abraço. Teremos que mudar o Carnaval para agosto. Mês mais fresco, mas também mês do desgosto. Desgosto de não termos feito nada enquanto ainda dava tempo.

Olha bem, meu amor, é o final da odisseia terrestre. Eu serei Adão e você será… minha pequena Eva?


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