Camaradagem, Bolsonaro no banheiro e cochichos: a…

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Laryssa Borges

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ainda tinha grande parte das cadeiras vazias quando, por volta das 13h25 desta segunda-feira, 9, o ex-presidente Jair Bolsonaro passou pelo último pórtico de segurança escoltado por assessores e advogados. Constrangido, ele saiu pela tangente por duas vezes ao ser questionado sobre o que esperar do dia em que ficaria frente a frente com ministro Alexandre de Moraes na sessão de interrogatório dos réus acusados de tramar um golpe de Estado no país. Bolsonaro havia passado o fim de semana em um treinamento sobre o que responder e como se portar no – até agora – momento mais expressivo do processo que pode levá-lo a ser condenado a até 40 anos de prisão. Por orientação da defesa, evitou provocações e não falou com a imprensa.

A despeito da tensão do processo e das acusações que pairam contra o ex-mandatário, os primeiros minutos da sessão renderam momentos inusitados. Bolsonaro, por exemplo, tentou esboçar um clima de camaradagem com os demais réus – Mauro Cid incluso. Partiu do ex-presidente, por exemplo, a iniciativa de se deslocar cinco mesas até chegar ao antigo ajudante de ordens, a quem cumprimentou. “Tudo bem?”. De pé, Cid respondeu antes do ex-chefe seguir para o banheiro, onde passou alguns minutos antes de a sessão de interrogatório começar. Àquela altura o Plenário já havia passado por varreduras com cães farejadores em busca de possíveis bombas. Nada foi encontrado.

Questionado mais uma vez se estava tranquilo, Bolsonaro, de pé enquanto seus advogados de defesa se reuniam uma última vez para definir estratégias para a sessão, faz sinal de positivo com as mãos. Não necessariamente convenceu. Sentado diante de Moraes, passou grande parte do interrogatório do delator Mauro Cid com as pernas e braços cruzados, como em posição defensiva. Cochichava com o criminalista Celso Vilardi a cada pergunta mais espinhosa e tomou dois cafés ainda nas primeiras horas do interrogatório de Cid.

Antigo chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, na mesa ao lado, usava os minutos que antecediam o início da sessão para apresentar a filha Renata a réus e advogados, enquanto o ex-comandante da Marinha, a quem recai a acusação de ter “colocado as tropas à disposição” de um golpe, pedia a um ajudante que guardasse o pulôver que trouxe para a oitiva. “A única coisa que não posso hoje é sentir frio’, disse, enigmático. Minutos depois, ele seria apontado por Cid como um exemplar da “ala radical” entre os conselheiros presidenciais que apoiavam alguma medida para reverter o resultado eleitoral de 2022.

Na primeira fileira, advogados localizados próximos a Mauro Cid não escondiam a tensão desta tarde. Um deles, de maneira mais direta, dizia a diferentes interlocutores que a sessão era um “teste para o coração” para os acusados. Bancas de defesa de réus diferentes, como a que atende o ex-auxiliar de Bolsonaro Marcelo Câmara, acompanham a sessão em busca de pontos a explorar para livrar os seus clientes de uma condenação.

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Defensores de Bolsonaro, Celso Vilardi e Paulo Amador disseram a VEJA que pela primeira vez eles teriam a oportunidade de questionar às claras possíveis vaivéns do acordo de delação premiada de Cid. Minar inconsistências dos depoimentos do colaborador, eventuais mentiras e o fato de que o ex-braço direito de Bolsonaro evita ao máximo usar a palavra “golpe” são estratégias para tentar desqualificar um dos pilares da peça de acusação do procurador-geral Paulo Gonet.

Daniel Tessler, também da banca defensiva de Bolsonaro, listou 11 idas e vindas do delator. A principal delas, disse a VEJA, seriam as diferenças entre as palavras literais de Cid nos depoimentos em vídeo da delação e os termos registrados como de Cid nos documentos anexados nos autos. “Fizemos um briefing com o presidente e ele está tranquilo. Hoje todos vão querem questionar Mauro Cid por causa do vaivém de versões. Deve se estender o dia todo [o depoimento]”, disse Bueno.



Leia Mais: Veja

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