Gabriella Franco
Quando foi morar em São Paulo, a mineira Maria Lúcia de Oliveira Diniz ficava horas nas lojas do shopping Iguatemi, às vezes só olhando, procurando algo diferente.
Insatisfeita, saía de lá e desenhava as próprias peças. A caderneta, que levava para todo lugar, era um catálogo de inspirações. Fazia vestidos de festa, de noiva, calças, blazers, acessórios e o que mais a imaginação permitisse.
Em certo Natal, ela costurou 16 vestidos diferentes, quatro para cada filha. As reuniões de família eram seu momento de maior dedicação. Cozinheira de mão cheia, montava mesas fartas em comida, em que os detalhes estéticos também eram levados a sério.
Nascida em Muriaé (MG), Maria Lúcia conheceu o marido aos 14 anos, quando se mudou com a família para Belo Horizonte. José Celso, ou Zé, como ela o chamava, tinha 16 anos e também era novo na capital —viera de Mariana (MG) para fazer o científico (antigo ensino médio).
A segunda filha do casal, Simone, conta que a mãe se apaixonou quando o viu descendo a rua com um colchão na cabeça. “Nunca vi um amor como o dos meus pais. Ele dizia que, se pudesse, daria as estrelas para ela”, lembra.
Em 1958, Maria e José se casaram. Tiveram quatro filhas, duas em Belo Horizonte e duas em São Paulo, para onde se mudaram em 1962. José era engenheiro e viajava com frequência. Maria Lúcia, na época com 28 anos, assumiu o papel de “rainha do lar”, segundo Tereza, a filha mais velha. Ela se dedicava inteiramente às meninas e à casa, no Alto de Pinheiros.
Esbanjava capricho e esmero em tudo, da maquiagem que aplicava de manhã —o batom vermelho era sua marca registrada— aos arranjos que fazia com as flores do próprio jardim. Prezava por equilíbrio e elegância. Por isso, brincar não era exatamente seu forte.
“Quando íamos à praia, minha mãe nunca entrava no mar. Meu pai é quem brincava mais. Mas ela cuidava de todo o resto”, lembra Simone. Para a filha, o melhor momento ao lado da mãe era assistindo à televisão. “Sentávamos no sofá, e eu ficava beijando o braço dela, chamava ela de mãezinha”, recorda.
Tereza, por sua vez, lembra até hoje de um raro momento em que a mãe sentou para contar uma história. Era sobre o drama de um bolo pálido, que, ao ver um moranguinho, corou. “Foi tão único, aquilo. Lembro de pedir para ela contar de novo mil vezes depois disso.”
Quando virou avó, Maria Lúcia ficou menos exigente e mais brincalhona. Gostava de dançar com os netos e, é claro, vesti-los com suas criações.
Aos 80, começaram a aparecer os primeiros sintomas de Alzheimer. Passou os últimos anos de vida ao lado do marido e da filha mais velha em um apartamento em Higienópolis, no centro de São Paulo.
Morreu no dia 10 de março, aos 89 anos, em decorrência de uma pneumonia. Maria Lúcia deixa o marido, quatro filhas e oito netos.



