Catadoras de resíduos em Fortaleza não são invisíveis – 19/03/2025 – Papo de Responsa

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De acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 90% da reciclagem de resíduos no país é feita por aproximadamente 800 mil catadores, dos quais 70% são mulheres. A maioria é negra, periférica e com baixa escolaridade. Assim, a referência de quem faz a coleta na rua, no sol e na chuva, porta a porta, é feminina.

Integrar catadoras de resíduos urbanos e mobilidade elétrica para uma cidade limpa começa a ser realidade na capital do Ceará. As catadoras estão chegando. Eles parecem invisíveis, discretas e silenciosas, mas estão nas ruas de Fortaleza dia após dia.

A cidade gera mais de 118 mil toneladas de resíduos por mês. Isso corresponde a uma média de 1,4 kg ao dia por habitante. Ou seja, 45 kg de resíduos são gerados por segundo na cidade. No entanto, a taxa de reciclagem municipal é de cerca de 8%.

Historicamente, as catadoras de Fortaleza enfrentam exclusão social, condições de trabalho perigosas e falta de representação na formulação de políticas locais. Associações formadas por elas têm acesso limitado às empresas de reciclagem e são forçadas a vender materiais para intermediários por uma baixa remuneração.

No entanto, elas são pacientes, assíduas e perseverantes. E estão chegando, pois, reconhecendo a necessidade de mudança, o Labifor (Laboratório de Inovação de Fortaleza), que aborda desafios urbanos a partir de uma abordagem sistêmica, reestruturou, em 2019, o sistema de gerenciamento de coleta de resíduos recicláveis da cidade.

O objetivo era alcançar maiores taxas de reciclagem e inclusão socioeconômica das catadoras por meio do projeto Re-Ciclo. Hoje, ele é um programa de reciclagem holístico que combina coleta porta a porta via triciclo elétrico, com melhores salários e condições de trabalho para catadores.

É um bom exemplo para demonstrar que educação, investimento estratégico e condições de trabalho formalizadas podem transformar percepções da sociedade em torno da reciclagem.

Um impacto de 500% na renda das catadoras já é avaliado. Elas estão seguindo regras herméticas, desde a coleta “delivery” agendada, transporte, separação e triagem até o destino final.

O poder público municipal conduz sistematicamente esforços de engajamento com catadores e moradores de Fortaleza para entender o gerenciamento de resíduos. As catadoras modelam o crescimento do programa e são as principais agentes de sua operação.

A integração com as associações locais para entender suas rotinas de trabalho e desafios fornece elementos para soluções em conjunto para problemas como condições de trabalho perigosas e restrições de mobilidade.

O Re-Ciclo incorpora diretrizes da legislação que define metas de reciclagem e reconhece as contribuições dos catadores de lixo. Essa abordagem tem facilitado parcerias público-privadas via modelos financeiros alternativos tipo “blended finance”, com a incorporação de investimento social privado da investidora de impacto IN3, da agência GIZ e do Banco CAF, gerando melhorias em toda a cidade.

Para avaliar a viabilidade do programa, uma startup foi contratada para gerenciar seu primeiro ano de operações com investimento social privado.

O compartilhamento de dados e o suporte estratégico do município permitem que associações aumentem sua capacidade de coleta e ofereçam condições de trabalho dignas.

Padrões culturais e comportamentais são desafiadores. A sociedade traz consigo preconceitos, que fazem com que muitos evitem qualquer relação com os catadores.

A coleta de resíduo é frequentemente vista como um trabalho sujo e indesejável. Apesar da melhoria desde a implementação do projeto, a apatia com os catadores permanece. Nota-se que 85% dos catadores no programa Re-Ciclo são mulheres que enfrentam dimensões agravantes de discriminação.

Ampliação para cima, para fora e entre a sociedade é que o mais se espera do programa neste novo ciclo de gestão municipal em Fortaleza.

Reconhecer mais ainda as catadoras de resíduos como contribuintes essenciais junto aos esforços de gerenciamento de resíduos e reciclagem da cidade é abraçar seu trabalho como uma ocupação formal, prestadora de serviço ambiental, com uma compensação justa.

Em Fortaleza, as catadoras estão chegando.


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