Coletivas da Casa Branca caem melhor na Coreia do Norte – 05/05/2025 – Mundo

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“Sou meio nerd quando vou escrever. (…) Sou do tipo nerd de política”, disse uma mulher à secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em uma entrevista coletiva na segunda-feira, antes de perguntar, de um jeito notavelmente típico de um nerd de política: “Então, em que direção você me aconselha a ir?”

Teria sido uma pergunta estranha para um repórter —cuja função é responsabilizar o poder, e não perguntar ao poder como propagar sua mensagem—, mas esta não era uma repórter. Era Kambree Nelson, uma “ativista de base transformada em influenciadora de mídia social” e embaixadora do America First Policy Institute, com mais de 600 mil seguidores no X. Uma mulher que ficou extremamente chateada no ano passado depois que parou de conseguir ver a lua no céu. “Por que todos estão em silêncio sobre isso?”, ela publicou no X. “Também estão quietos sobre o sol branco” (uma referência a uma teoria da conspiração que argumenta que o sol mudou de cor nos últimos anos).

Na verdade, isso também não era uma entrevista coletiva, mas uma nova sessão de disseminação de propaganda —desculpe, uma entrevista coletiva da “Nova Mídia”, como o canal oficial da Casa Branca no YouTube o descreveu— realizada durante três dias consecutivos esta semana.

Poderia ter sido mais sutil se Leavitt tivesse mantido o título oficial em vez de apresentar cada sessão como uma “entrevista coletiva para influenciadores”, o que revelou claramente seu propósito. “Eu gostaria que mais pessoas na mídia tradicional fossem como você”, respondeu ela a Nelson. (Sem dúvida.) “O presidente está fazendo tantas coisas fenomenais todos os dias que nunca serão mencionadas no noticiário. (…) É, novamente, por isso que estamos recebendo vozes independentes como a sua, com seguidores nas redes sociais, porque essa é a melhor maneira de divulgar essas verdades e esses fatos.”

Este não é o primeiro passo que a Casa Branca deu em sua cruzada contra a chamada mídia tradicional —ou legacy media, termo em inglês popularizado por Elon Musk, que nos descreveu em dezembro como uma “operação psicológica ininterrupta”. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já baniu a Associated Press do Salão Oval porque ela se recusou a chamar o Golfo do México de “Golfo da América” (acho que agora eu também estou banido), o que um juiz distrital considerou inconstitucional. No mês passado, o governo removeu o lugar permanente das agências de notícias no pool de imprensa. E, esta semana, a Casa Branca lançou seu próprio site de notícias, apresentando apenas a cobertura mais elogiosa do presidente, é claro.

Consigo ver o que estão tentando fazer aqui. Para começar, o establishment —um termo com conotações ligeiramente menos decrépitas que “tradicional”— da mídia tem um grande problema de representação. Um estudo de 2022 da Escola de Comunicações Públicas Newhouse da Universidade de Syracuse, com 1.600 jornalistas americanos, descobriu que apenas 3,4% deles se identificavam como republicanos, abaixo dos 7,1% em 2013 e 18% em 2002. Dez vezes mais, 36,4%, se identificaram como democratas (51,7% disseram ser “independentes”).

Além disso, a mídia estabelecida errou em muitas coisas nos últimos tempos, em particular —e não por coincidência— nos nove anos desde que Trump caiu de paraquedas no cenário político. Desde o encobrimento da fragilidade de Joe Biden até a redução explícita da objetividade na reportagem, passando por retratar aqueles que questionaram a história de origem da Covid-19 em um mercado em Wuhan como teóricos da conspiração. Alguns veículos tradicionais muitas vezes pareceram mais interessados em promover uma agenda particular do que buscar a verdade.

Mas é fácil não ver a floresta por causa das árvores: só porque houve alguns —na verdade, muitos— exemplos de erros, não significa que a mídia institucional, com todos os seus controles e equilíbrios e reportagens in loco que a “Nova Mídia” geralmente carece, possa ser comparada, mesmo que ligeiramente, com esses porta-vozes do Maga (acrônimo para “make America great again”, ou façam os EUA grandes de novo, em inglês).

E vamos deixar claro —essas novas “entrevistas coletivas de influenciadores” não são, como Leavitt afirmou, uma tentativa de “falar com todos os veículos de mídia e personalidades”. Assisti aos três e não identifiquei nenhum veículo ou personalidade de esquerda. Identifiquei Sean Spicer, um dos predecessores de Leavitt; o fanático por bitcoin que virou superfã de Trump, Anthony “Pomp” Pompliano; e Arynne Wexler, “apenas uma garota não-progressista em um mundo progressista louco”, que começou com: “Posso atestar as deportações na Flórida: meus motoristas de Uber finalmente falam inglês novamente, então obrigada por isso.”

Tratar esses influenciadores como se estivessem em pé de igualdade com jornalistas sérios não é apenas desrespeitoso; é perigoso. E fazer uma entrevista coletiva na qual apenas disseminadores de propaganda amigáveis são bem-vindos pode ser aceitável em Pyongyang, mas isso deveria ser a capital do mundo livre. Para um presidente que geralmente parece ter uma compreensão instintiva do que constitui uma boa imagem, isso é, francamente, uma péssima aparência.



Leia Mais: Folha

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