Drag kings ganham espaço com show, concurso e censo – 27/05/2025 – Você viu?

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Cristina Camargo

São Paulo

É inquestionável o atual sucesso das drag queens em segmentos como a música, o teatro e a TV. Agora, outro movimento começa a chamar a atenção, o dos artistas drag kings —mulheres cis, pessoas transmasculinas e não binárias que se montam e se transformam para explorar as masculinidades.

Como parte dessa movimentação, o Sesc Santo Amaro vai apresentar no dia 1º de junho o Drag King Pocket Show, com um grupo de sete drag kings. Festivais, concursos e um censo também fazem parte dessa agitação.

“Há muito preconceito, misoginia e transfobia envolvendo esses artistas, seus corpos e suas manifestações”, afirma Lorde Lazzarus, 44, idealizador do espetáculo no Sesc e criador do concurso King of Kings.

Segundo Lazzarus, poucos eventos, principalmente os maiores e mais tradicionais, incluem drag kings em seus elencos. “O preconceito se dá também dentro da comunidade, que costuma achar que a performance drag king é menos cuidadosa, menos produzida, que os drag kings são menos dedicados ou até mesmo desinteressantes”, diz. “O que esses artistas têm feito é criar seus próprios núcleos de montação, seus próprios eventos.”

O artista também atua como drag queen, com o personagem Lady Lazzarus e, além do transformismo, trabalha com palhaçaria, manipulação de fogo, pirofagia, arte burlesca, dança e performance, além de cantar e compor.

O Drag King Pocket Show, com entrada gratuita, será apresentado para público de todas as idades. É uma iniciativa que faz parte do desejo de não restringir as apresentações de drags a bares, boates e festas temáticas.

“Costumo dizer que é mais fácil, mais seguro, fazer arte LGBT dentro da nossa bolha, mas rompê-la pode trazer recompensas grandiosas, e para ambos os lados”, diz o idealizador do show. “Os artistas passam a ver o público de fora da comunidade com menos medo e as pessoas que nos assistem, que não pertencem à sigla, passam a nos admirar e nos colocar no lugar de cidadãos dignos de respeito e liberdade.”

Lazzarus afirma que as pessoas dissidentes de gênero não devem ser temidas ou evitadas, e sim amadas e acolhidas e um show como o que será apresentado no Sesc Santo Amaro pode ser educativo nesse sentido.

O projeto foi inspirado no Drag History Hour, realizado nos Estados Unidos desde 2015, com contadores de histórias usando a arte drag para ler livros sobre a diversidade para crianças em bibliotecas, escolas e livrarias.

Tudo foi produzido especialmente para o formato aberto para todas as faixas etárias, inclusive crianças: figurinos, objetos cênicos, propostas de trabalho com músicas que falam do universo LGBT de forma lúdica e divertida.

Já o concurso King of Kings é baseado no RuPaul’s Drag Race, em que drags do mundo todo competem para ganhar um prêmio e uma vaga no cobiçado reality show. A primeira edição do concurso local foi realizada em 2021, no formato online, por causa da pandemia. Dividida em três episódios, foi transmitida pelo YouTube. Em 2023 aconteceu uma edição presencial, com 15 participantes.

O plano é fazer o concurso na modalidade bianual, mas a produção enfrenta dificuldade de financiamento. “Produzir qualquer coisa num teatro, especialmente em São Paulo, costuma custar bastante. Mas não pretendo desistir. Enquanto o concurso não acontece, estamos explorando outras oportunidades de colocar os kings em cena”, diz Lazzarus, um estudioso insistente do transformismo.

Ele criou também o censo drag king, para obter dados estatísticos sobre as pessoas que exploram esse tipo de arte no Brasil. A pesquisa é realizada há três anos e 120 pessoas já responderam o questionário. “Sabemos onde estão essas pessoas, que idade elas têm, como descobriram a arte drag king, onde moram, qual escolaridade e fonte de renda, entre outras coisas”, diz.

“O objetivo é levantar esses dados e posteriormente levá-los para a universidade, para que possamos mostrar que existe uma grande comunidade de artistas drag kings atuando no país e que eles precisam de oportunidades, de formação adequada, de portas abertas para recebê-los em todos os lugares”, completa.



Leia Mais: Folha

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