Eduardo é Jair. Jair é Eduardo

Date:

Compartilhe:

Thomas Traumann

Os Bolsonaros dobraram a aposta. Em menos de uma semana, o deputado Eduardo Bolsonaro usou postagens no X, vídeos no YouTube e entrevistas para (1) pedir “humildemente” a Donald Trump que adote a lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, (2) defender as sanções americanas apesar dos efeitos danosos para a economia, (3) intimidar um delegado da Polícia Federal, (4) atacar o governador Tarcísio de Freitas, (5) criticar o governador Romeu Zema, (6) anunciar que irá impedir a tentativa de negociação com o governo americano pela comissão do Senado que inclui dois ex-ministros do governo Bolsonaro e (7) ameaçar os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, de perda de visto dos EUA caso não votem pela anistia do seu pai e o impeachment de ministros do STF. 

A escalada verbal de Eduardo, o filho número 3, não é voz isolada na família. A única tentativa de recuo _ uma postagem do filho mais velho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro na sexta, dia 18, pedindo que Trump trocasse as tarifas por sanções pessoais_ foi cancelada por ordem de Jair Bolsonaro. Em conversas na quinta e na sexta (24 e 25), o ex-presidente voltou a falar na possibilidade de manter a sua candidatura presidencial até o ano que vem, mesmo sabendo que ela será negada pela Justiça eleitoral. Nesta hipótese, ele teria o filho Flávio como vice que assumiria seu lugar na disputa _ a mesma tática que Lula da Silva usou em 2018 com Fernando Haddad. Como todos sabem, a tática deu errado no curto prazo (com Haddad sendo derrotado por 10 milhões de votos), mas no médio prazo impediu o surgimento de uma alternativa na esquerda, manteve Lula em evidência e ajudou no seu retorno ao poder em 2022.

Eduardo acreditava que a ameaça das sanções de Donald Trump geraria um terror tão grande, que as elites política e econômica forçariam o STF e o Congresso a anistiar o pai e virar o jogo da eleição de 2026. O resultado está sendo o oposto. O efeito Trump devolveu popularidade e protagonismo ao presidente Lula, reduziu as chances eleitorais de qualquer candidato com o sobrenome Bolsonaro, horrorizou o empresariado, pressionou outros candidatos da direita a fazerem críticas tímidas ao lobby de Eduardo nos EUA e afastou definitivamente o Centrão da pauta da anistia. 

Jair Bolsonaro segue sendo o principal líder do antipetismo, mas seu poder está encolhendo. Embora o candidato favorito do establishment, Tarcísio de Freitas, só aceite ser candidato com o apoio do ex-presidente, a possibilidade de o Centrão apoiar um nome da família é baixíssima. A proximidade com Trump é tóxica. Uma pesquisa da empresa Futura no estado de São Paulo mostrou que em dois meses a vantagem de Jair Bolsonaro sobre Lula em um eventual segundo turno caiu mais de sete pontos percentuais, a de Michele 8 pontos e Eduardo perde na margem de erro para o presidente. Com quase um terço das exportações brasileiras para os EUA e 22% do eleitorado brasileiro, São Paulo será o estado mais atingido pelas sanções de Trump.

Esta semana estabeleceu-se uma nova rotina para os repórteres de política de Brasília. Depois das 17h, eles se organizam para seguir o ex-presidente Jair Bolsonaro da sede do Partido Liberal, na Asa Sul, até a sua casa, em um condomínio no Jardim Botânico, um trajeto de menos de 20 minutos de carro em dias normais, mas que na quinta-feira, dia 24, chegou a 42 minutos. Tudo para confirmar se o ex-presidente chega em casa antes das 19h e cumpre as medidas restritivas determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes

A vigília da mídia sobre a submissão de Bolsonaro às ordens de Moraes é a parte mais visível de um tempo de liberdade que está se esgotando. Em menos de sessenta dias, Bolsonaro será condenado a mais de trinta anos de cadeia pelo planejamento e tentativa de golpe de Estado. Mesmo com os eventuais recursos, é provável que o ex-presidente passe o Natal preso. Até semanas atrás, era certo que esta detenção seria domiciliar. Depois das ameaças de Donald Trump para impedir o julgamento e o cancelamento dos vistos dos ministros do STF, a concessão da prisão domiciliar já não é um fato dado. A pressão da família Bolsonaro por uma escalada de Trump contra o Brasil é resultado deste desespero contra o calendário.



Leia Mais: Veja

spot_img

Related articles

Brasil bate recorde de turistas: 7 milhões no ano; veja locais e nacionalidades

Nunca o país foi tão visitado. O Brasil bateu recorde de turistas. Foram quase 7,1 milhões de...

Doador anônimo quita dívidas de merenda escolar de todos os alunos

Muitos pais de uma pequena cidade ficaram emocionados com um doador anônimo que quitou todas as dívidas...

Brasileiros têm dinheiro esquecido em bancos: R$ 10 bilhões; veja como resgatar

Notícia boa para quem está no vermelho. O Banco Central informou que os brasileiros dinheiro esquecido em...

Site seguro, sem anúncios.  contato@acmanchete.com

×