Evidências são limitadas para o cogumelo juba de leão – 25/05/2025 – Equilíbrio

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Raíssa Basílio

Alguns cogumelos, como os do gênero Psilocybe, são conhecidos por sua capacidade psicoativa devido a compostos como psilocibina e psilocina. No entanto, existem também os cogumelos neurotróficos —caso do juba de leão (Hericium erinaceus)—, que ganharam popularidade nas redes sociais por supostos benefícios à memória, concentração e alívio de sintomas de depressão e ansiedade.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o fungo por trazer benefícios como os apontados nas publicações das redes, mas ainda não existem evidências científicas robustas que comprovem a eficácia.

Segundo o psiquiatra Alexandre Valverde, diferentemente de remédios psiquiátricos (que alteram a química do cérebro, como antidepressivos ou ansiolíticos), o juba de leão age fortalecendo a estrutura dos neurônios –como se fosse um “construtor de pontes” entre as células do cérebro.

“O cogumelo não age como um remédio psiquiátrico comum, ele não altera neurotransmissores, mas sim constrói conexões entre os neurônios”, completa. “É um suplemento alimentar. Pode ser comprado desidratado, em extrato ou cultivado em casa”, explica.

O que dizem pesquisas

Um estudo de 2023 publicado no periódico Nutrients mostrou que esse cogumelo melhora a função cerebral de forma gradual, aumentando os níveis de BDNF (uma proteína que protege os neurônios) e equilibrando neurotransmissores como serotonina e dopamina. Seus benefícios são mais visíveis na cognição (como raciocínio e memória) do que no humor.

A pesquisadora Elisa Esposito, da Unifesp (Universidade Federal da São Paulo), destaca o potencial do juba de leão para doenças neurodegenerativas e problemas de memória. “Esse é um cogumelo culinário e medicinal que contém compostos bioativos —hericinonas e erinacinas— que estimulam o fator de crescimento neuronal e contém propriedades neuroprotetoras”, afirma.

Segundo ela, o fator mais pesquisado de crescimento neuronal é o que auxilia o reparo e recuperação funcional de nervos danificados, como no caso de doenças como Parkinson e Alzheimer. Além disso, o juba de leão é rico em antioxidantes, que melhora pode melhorar a saúde das células como um todo.

Esposito alerta para as limitações dos estudos, principalmente devido ao número de participantes, que é pequeno. “É preciso que tenham mais pesquisas e estudos clínicos com um número amostral maior”, diz.

Uma revisão da Alzheimer‘s Drug Discovery Foundation (ADDF) avaliou estudos que utilizaram o gfungo em pacientes com comprometimento cognitivo leve e Alzheimer, além de pesquisas pré-clínicas em roedores. Embora existam resultados promissores, as evidências em humanos ainda são limitadas e inconclusivas. São necessários mais estudos clínicos mais amplos, com humanos, para confirmar sua eficácia no tratamento de doenças neurodegenerativas.

Outra limitação apontada pela pesquisadora é a falta de laboratórios certificados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para fazer a análise da concentração dos compostos bioativos dos cogumelos medicinais; além de pessoas capacitadas para a produção desses fungos da maneira correta no Brasil.

“A potencialidade do cogumelo vai depender de vários fatores para que mantenham os bioativos eficientes na saúde. É todo um processo que deve ter um controle grande”, afirma.

A bióloga e psicoterapeuta Daniela Monteiro, diretora da Associação Psicodélica do Brasil (APB), e a psicoterapeuta Jéssyka Sarcinelli, da mesma associação, destacam que, embora estudos preliminares com idosos e modelos animais indiquem um potencial do cogumelo juba de leão no tratamento do Alzheimer, essa narrativa é exagerada.

Por não ter efeitos psicoativos, o uso do fungo não carrega o estigma associado a substâncias psicodélicas, o que favorece sua promoção nas redes sociais. “Plataformas como Instagram e TikTok a tratam como um ‘Adderall natural’, apesar das evidências limitadas para jovens saudáveis”, afirma Monteiro, referindo-se ao medicamento para TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção) que não é vendido no Brasil.

Valverde também diz que os efeitos podem variar de pessoa para pessoa: algumas sentem mais clareza mental logo nos primeiros dias, enquanto outras não percebem muita diferença. “Não é uma solução mágica, mas quem se dá bem com o uso costuma notar uma melhora. O efeito é perceptível no mesmo dia e acumulativo.”

Colaborou Giulia Peruzzo



Leia Mais: Folha

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