Anna Virginia Balloussier
O pastor Valdinei Ferreira foi readmitido na Fatipi, a faculdade de teologia da Ipib (Igreja Presbiteriana Independente do Brasil). Seu contrato como docente havia sido terminado após ele publicar na Folha o artigo “Judas Traiu Jesus ou Jesus Traiu Judas?”.
Documento assinado pelo presbítero Heitor Pires Barbosa Junior, presidente da Fundação Eduardo Carlos Pereira, a mantenedora da Fatipi, confirma a readmissão de Ferreira.
“Graça e paz!”, começa o texto que informa ao pastor a “suspensão da sua demissão”. Como justificativa, foi dada “a alegação de direito à aposentadoria, no prazo de 18 meses”. Ele estava próximo de se aposentar quando foi excluído do quadro de professores da Fatipi.
Ferreira respondeu numa carta que se inicia com a saudação “paz e bem”. Ele questiona por que deveria esperar 30 dias para retomar suas atividades docentes, como solicitado pelos empregadores.
“Houve da parte deles uma recomendação para que eu não reassumisse [logo] as aulas”, afirma à reportagem. “Não concordei por entender que era uma forma de impor um silêncio forçado e também porque, perto do fim do semestre, as minhas turmas seriam prejudicadas pedagogicamente.”
Ele voltou à sala de aula na semana passada.
Procurada, a direção da Fatipi disse que não se pronunciaria sobre o caso agora. A fundação que mantém a faculdade havia dito, quando optara por demitir Ferreira, que publicações veiculadas “sem a anuência da Fatipi ou da FECP são de responsabilidade exclusiva de seus autores”, referência ao artigo que relativiza a imagem vilanesca associada a Judas na Bíblia.
Na carta endereçada aos patrões, o pastor indaga sobre o motivo dado para demiti-lo em primeiro lugar.
Para Ferreira, a demissão ocorreu por uma óbvia causa. O artigo sobre Judas teria causado cizânia entre pares evangélicos, fomentando a falsa hipótese de que ele empurrou para Jesus a pecha de traidor, como “um herege”. Pressionada, a diretoria da faculdade teria então rompido o contrato com ele, diz.
O pastor presbiteriano diz que tem buscado “transformar esse episódio num ponto de partida para que a minha igreja reflita que não é possível reproduzir internamente o discurso político que atribui o estigma de descrente e traidor a qualquer pessoa que faça críticas ao combo ‘ser cristão é ser de direita’”.
Na sexta (9), ele publicou novo artigo no jornal sobre o polêmico apóstolo: “Cristãos de direita usam Judas para trair e negar Jesus“.