“Faremos o enfrentamento necessário ao governo”, d…

Date:

Compartilhe:

Ricardo Ferraz

Gilberto Nascimento,  68 anos, chega à presidência da poderosa Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em uma eleição inédita. Desde o surgimento da bancada que congrega protestantes de diversas correntes políticas no Senado e na Câmara, em 2003, todos os líderes foram escolhidos por aclamação. A mudança de método evidencia uma disputa ferrenha nos bastidores. Um acordo previa que o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) fosse o próximo presidente, mas o parlamentar, que diz ser um ex-bolsonarista, fez acenos recentes ao governo Lula. Descontentes com a postura do colega, diversos representantes do segmento religioso que mais cresce no Brasil passaram a trabalhar pela candidatura de Nascimento, entre eles, Silas Malafaia, ferrenho defensor do ex-presidente Jair Bolsonaro. No caminho, Greyce Elias (Avante- MG) chegou a abrir mão da candidatura em favor do colega eleito. Um dos principais desafios do novo dirigente da bancada evangélica é recuperar sua unidade. Nessa entrevista a VEJA, ele garante que a FPE reagirá sempre que tiver sua ideologia for confrontada e diz que o colegiado não é o meio do governo perseguir apoio dos fieis.

A eleição inédita na FPE evidencia um racha entre os parlamentares do segmento? Não, de maneira nenhuma. Na posse, tivemos a presença do deputado Otoni e da deputada Greyce, então não tem nenhum racha. O que houve foi um certo questionamento, porque um grupo entende de um jeito, o outro grupo entende de outro e determinadas críticas públicas acabaram por criar desconforto e distanciamento. A ponto de os deputados me procurarem para dizer: “Gilberto,você é uma pessoa que conhece o segmento, que foi um dos fundadores da Frente. O presidente poderia ser você”. E aí surgiu o meu nome. E quem ganhou, ganhou, quem perdeu, perdeu mas não há ressentimento. Sou do diálogo, da conversa.  

O deputado Otoni de Paula, que já foi muito próximo de Bolsonaro fez gestos ao presidente Lula. Esse desconforto vem daí? As questões pessoais de cada parlamentar são de responsabilidade deles. Conheço Otoni há muitos anos e sempre mantivemos um diálogo respeitoso. Como presidente da Frente, continuarei buscando essa mesma postura, prezando pelo respeito e pela construção de um ambiente de diálogo.

A briga de Otoni com Bolsonaro está diretamente ligada à eleição municipal do Rio de Janeiro, já que o deputado tinha pretensões de se candidatar à prefeitura, mas foi preterido em favor de Alexandre Ramagem (PL). Isso acabou contaminando o clima na bancada evangélica? Ele nunca me externou isso. Entendo que isso não deve ser levado para dentro da bancada. Até porque as nossas pautas são outras, o nosso momento é outro. Quem luta por uma frente tem de ter muito mais um espírito de conciliação

Desde o início do governo, Lula, que já teve apoio da bancada, tenta se aproximar dos evangélicos. Isso é possível? Isso não deve ser feito através da FPE. Uma coisa são os partidos políticos e, dentro da bancada, nós temos um espectro muito grande, que vai do PSOL ao PL.  Não dá para num determinado momento você imaginar que a frente parlamentar evangélica vai ser oposição, ou situação. Isso cabe aos partidos. Ela, inclusive, tem uma pauta muito mais ideológica. O governo é que faz oposição a ela, se envia para o Congresso projetos de lei que vão contra o que acreditamos. Somos contra a  liberação dos jogos, das drogas, contra o aborto, e qualquer iniciativa que possa perturbar nossa liberdade religiosa. Faremos o enfrentamento necessário se nossas pautas forem confrontadas.

Continua após a publicidade

Mas houve algum tipo de ação parlamentar por parte da base aliada e do governo que ferisse essas pautas? Que eu me lembre nos últimos tempos, não. Mas, a hora que você pega uma portaria do Ministério da Saúde tratando de prazo para o aborto, e que, de qualquer forma, afronta a lei é claro que isso traz uma certa insatisfação a essa frente parlamentar.

Mas, nesse caso, a portaria voltou a regulamentar os casos de aborto legal no Brasil, previstos desde 1940… Na política, infelizmente, não vale o fato, vale a a versão. A versão que se deu foi totalmente contrária. Para os nossos seguidores, para os membros das nossas igrejas ou aqueles que os deputados os representam em Brasília, isso chegou de forma muito negativa. Pode-se argumentar que o governo não soube explicar direito mas, de qualquer forma, isso soou de forma transversal.

Os deputados da Frente estão apenas reagindo à reação das redes? Se tem um ataque grande e você chega no final de semana em uma igreja ou um local de reuniões qualquer e as pessoas questionam e colocam essa dúvida, automaticamente, isso já causou uma insatisfação na outra ponta. Esse é apenas um exemplo, mas tem uma série de portarias, regulamentações e decretos que acabam criando essa instabilidade.

Continua após a publicidade

Alguns pastores muito influentes, como é o caso de Silas Malafaia, disseram nos bastidores que iriam cobrar publicamente os políticos que votassem em um candidato mais próximo ao governo Lula. Isso decidiu a disputa? Sinceramente, eu não vi manifestações dele dessa forma. Ele tem alguns deputados na Câmara e deve ter pedido votos, assim como outras forças também pediram. 

Muita gente do meio evangélico acredita que a disputa na FPE refletiu uma briga por protagonismo na Assembleia de Deus, denominação a qual o senhor é ligado, entre Malafaia e a família Ferreira, que estava com Otoni. Concorda? Não, de maneira nenhuma. Eu tive votos de todas, os evangélicos ali representados – da Igreja do Evangelho Quadrangular, Persbiteriana, Sara a Nossa Terra… Não  acho que houve qualquer influência. O objetivo é comum: pregar o evangelho e fazer com que o Brasil vá bem. 

Além das pautas históricas, que outros temas pretende levar adiante em sua gestão? Estamos fazendo um levantamento grande das pautas propostas por nossos integrantes. Mas creio que podemos abordar  temas que não estão diretamente relacionados à religião. Temos deputados e senadores muito capazes em diversos partidos. Precisamos debater certos assuntos com a sociedade, como a questão da dívida interna. Não é possível viver num país que paga 3 bilhões de juros todos os dias e que a relação dívida-PIB está chegando em quase 80%. 

Como o senhor, se posiciona em relação ao projeto de anistia aos presos pelos atos de oito de janeiro? Pessoalmente – e não falo aqui em nome da bancada -, acho que nós temos de ter uma anistia, porque a dosimetria das penas está muito equivocada. Não tem sentido, por exemplo, uma senhora que passa um batom numa estátua ser condenada a 16 anos de prisão. 



Leia Mais: Veja

spot_img

Related articles

O Peru passa por críticos da lei reivindicará as ONGs – DW – 14/03/2025

Grupos de direitos em Peru Na quinta-feira, criticou fortemente uma reforma controversa à lei de cooperação internacional...

O PM da Groenlândia pede ‘rejeição mais dura’ do plano de Trump de levar a ilha | Donald Trump News

O primeiro -ministro cessante Mute Evegee diz que o 'desrespeito' da Groenlândia deve parar, pois o presidente...

Um anel de espionagem – e um triângulo amoroso – podcast | Rússia

Presented by Michael Safi with Dan Sabbagh; produced by Tom Glasser and Hannah Varrall; executive producer Elizabeth...