Flávia Mantovani
Problema altamente prevalente no Brasil, onde a cada hora quatro meninas com menos de 13 anos são estupradas, a violência sexual contra crianças e adolescentes pode ser agravada por outra crise que coloca essa população vulnerável ainda mais em risco: as mudanças climáticas.
Estudos e estatísticas globais mostram que eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, aumentam a chance de crianças e adolescentes sofrerem violências como abuso e exploração sexual, tráfico de pessoas, gravidez e casamento precoce.
“Grandes desastres naturais potencializam os riscos de vitimização para crianças e adolescentes. As situações de vulnerabilidade, incerteza e estresse a que as pessoas estão submetidas em um contexto de emergência catalisa os fatores de risco de violências físicas, morais e sexuais para crianças”, explica o relatório “Crianças, adolescentes e mudanças climáticas no Brasil”, produzido pelo Unicef (fundo da ONU para a infância) em 2022.
O estudo também mostrou que 60% das crianças e adolescentes brasileiros (40 milhões, no total) já são impactados pelas mudanças climáticas, especialmente em regiões mais vulneráveis.
Neste segundo semestre, a Folha vai produzir uma série de reportagens sobre a interseção entre as duas crises —climática e de violência sexual infantil. Esse será o tema da nova Causa do Ano, que contará com o apoio do Instituto Liberta.
Segundo Luciana Temer, diretora presidente do instituto, dar visibilidade ao tema torna-se ainda mais relevante com a realização COP 30 neste ano no Brasil
“Gostaríamos que as pessoas conectadas com a questão ambiental entendessem que as mudanças climáticas também impactam na violência sexual contra crianças e adolescentes. A crise do clima aumenta a vulnerabilidade das famílias, e com isso cresce a possibilidade especialmente da exploração sexual de meninas”, afirma.
Neste 18 de Maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o Liberta vai projetar, no Congresso Nacional, das 19h às 21h, estatísticas e frases sobre esse tipo de violência, que ainda é considerada altamente negligenciada.