Mappin: Vi até golpista engolir RG, lembra ex-funcionária – 05/03/2025 – Mercado

Date:

Compartilhe:

Douglas Gavras

Foi no Mappin, a rede de lojas de departamentos cujo maior símbolo era o prédio na praça Ramos de Azevedo (centro de São Paulo), que Patricia Segatto Palley, 53, aprendeu lições de atendimento e gestão de varejo que carregaria pela vida.

Hoje chefe de comunicação e projetos estratégicos na MCI Brasil, ela teve na varejista sua primeira oportunidade de trabalhar em uma empresa de grande porte, influenciada por sua mãe, que era chefe em uma das unidades.

Após se divorciar e ascender na empresa, sua mãe conheceu o futuro marido trabalhando na loja, que também empregaria um irmão de Patricia. “Até choramos quando soubemos que ia fechar”, lembra a executiva de comunicação.

A loja de departamentos foi aberta em 1913, teve seu auge e entrou em declínio na década de 1990. Em 1996, a empresária Cosette Alves vendeu o Mappin a Ricardo Mansur, que prometeu revitalizar a empresa, mas em 1999, foi decretada a falência do magazine. Em 2019, a Marabraz relançou a marca online, apostando na memória afetiva do consumidor, mas ainda sem tanto sucesso.

O magazine era conhecido por seu padrão internacional de atendimento ao cliente, sendo uma referência no varejo brasileiro. Apesar de ter trabalhado por apenas um ano, ela guarda boas lembranças do emprego, destacando a importância da experiência para toda a sua família.

Esse texto faz parte de uma série em que trabalhadores rememoram profissões ou negócios que deixaram de existir.

Leia abaixo o relato de Patricia.

O Mappin era um fenômeno, eles faziam a contratação de uma equipe extra para o RH ainda no meio do ano, para o setor dar conta das admissões de vendedores de fim de ano. Foi assim que eu comecei.

No fim do contrato temporário, recebi um convite para ficar no setor responsável pelas vendas de joias, relógios e discos na unidade do Itaim, em São Paulo. De cara, vi do outro lado do balcão a loucura das pessoas vindo correndo para o Natal, quando a loja funcionava das 8h à meia-noite.

Tinha transporte para conseguirmos chegar de madrugada na loja, a gente vendia milhares de peças por dia e sempre repetíamos, com orgulho, que o Mappin da praça Ramos de Azevedo, o mais famoso de todos, era o campeão de venda de alianças de casamento na América Latina.

Eu era muito jovem, entrei na loja em agosto de 1989 e fiquei cerca de um ano, mas posso dizer que a empresa foi a minha escola de formação em atendimento ao cliente, aprendi a avaliar joias, a fazer tomada de preços no shopping, aprendi tudo ali.

Não havia nada parecido com aquele formato de megastore que eles tinham trazido de fora. Outras redes tentaram fazer igual, mas sem sucesso. O Mappin não era só mais uma rede de lojas, ele tinha um padrão internacional de atendimento e de segurança, em que aprendíamos a lidar com diversas situações.

Na época, as pessoas pagavam tudo com cheque, então, tinha muito estelionato. Lembro de quando a gente pegou golpista tentando engolir o RG depois de ser desmascarada, para não ter provas.

O Mappin não foi o meu primeiro emprego, minha família é de feirantes e sempre trabalhamos, mas foi a minha primeira experiência em uma empresa de grande porte e marcou a todos nós. Foi uma fase da vida muito importante.

A minha mãe, Edna, estava se recompondo após uma separação quando foi trabalhar lá, depois de receber uma oportunidade de ter um bom trabalho, com três filhos para criar. Foi no Mappin que ela conheceu seu companheiro de vida, Leopoldo, ambos passaram pela empresa no mesmo período.

Além de mim, meu irmão Carlos Eduardo, que hoje é tatuador, também trabalhou lá, como office boy e assistente. As lojas ficaram na memória afetiva das pessoas, mas também marcaram a nossa.

Quando saí da empresa, foi para ganhar um pouco melhor e realizar o sonho de fazer faculdade, que era algo muito mais distante na época. Ainda apliquei os conhecimentos no atendimento ao cliente indo trabalhar com vendas em shopping. Estudei Publicidade e Propaganda, deixei o varejo e fui trabalhar com marketing e comunicação.

Desde 2016, trabalho como consultora, ajudando a criar, aprimorar ou estreitar a gestão e os processos de negócios mais voltados à comunicação. Há três anos, faço parte do grupo de diretores e acabei de assumir uma cadeira no conselho da MCI Brasil, agência global de marketing e engajamento com 300 escritórios em 30 países.

Quando soubemos que as lojas do Mappin tinham fechado, todo mundo lá de casa chorou. E li a notícia no jornal e logo telefonei para a minha mãe. A gente se emocionou demais, foi como ver ficando para trás uma parte da nossa história.

Como consumidora, o que me encantava é que você ia naquele lugar e resolvia tudo, você comprava tudo de cama, mesa e banho, eletrodomésticos, presentes de Natal. Tinha noiva que deixava a lista do enxoval.

O Brasil tem grandes lojas, mas o varejo mudou muito. Na Europa e nos Estados Unidos esse modelo do Mappin ainda resiste, e muitas redes se voltaram para um público mais refinado. Aquela conveniência de uma loja de departamentos não existe mais, hoje você só encontra algo parecido (mas não igual) na internet.



Leia Mais: Folha

spot_img

Related articles

As tarifas são um aumento de impostos sobre países estrangeiros? – DW – 13/03/2025

Em seu segundo mandato como presidente dos EUA,Donald Trump quer colocar "o trabalhador americano em primeiro lugar"...

O UNICEF diz que 12 milhões em risco de violência sexual à medida que a crise do Sudão se aprofunda | Notícias de guerra...

O Guerra no Sudão expôs mais de 12 milhões de pessoas a violência sexual "difundida" que está...