Kana Inagaki, Patricia Nilsson, Ian Johnston, Mari Novik
As marcas ocidentais podem não ter futuro na China, já que as montadoras locais se aproximam do último reduto mantido por empresas como Volkswagen e Toyota, alertou a Stellantis.
Quando questionado se os grupos automotivos ocidentais seriam capazes de competir com as marcas locais na China, Maxime Picat, diretor de operações da Stellantis para Ásia-Pacífico, Oriente Médio e África, e um dos dois candidatos internos a se tornar o próximo CEO do grupo, disse: “Sou um cara bastante otimista, mas não nesse caso.”
As marcas locais conquistaram uma participação significativa de mercado na China das montadoras estrangeiras nos segmentos de carros elétricos e veículos maiores, mas marcas como Toyota e Volkswagen ainda vendem grandes volumes de veículos a gasolina de médio porte, conhecidos como “segmento C”.
“Fiquei chocado”, disse Picat na cúpula Future of the Car do FT, apontando para a ofensiva crescente das marcas locais em todos os segmentos de veículos. Isso significa que as montadoras ocidentais ficam apenas com o “segmento C de motores a combustão interna. E isso não vai durar”, acrescentou.
“Se você observar o que aconteceu nos últimos anos, a tendência [de queda na participação de mercado] é forte e tem sido muito difícil para as [montadoras] ocidentais manterem sua posição na China”, disse.
Enquanto muitas empresas ocidentais, incluindo a Stellantis, têm gradualmente se retirado da China em meio à forte concorrência e uma guerra de preços devastadora, fabricantes alemães como a Volkswagen redobraram seus esforços em um mercado que há muito tempo é fonte de lucros.
Volkswagen, Toyota e outras marcas estrangeiras adotaram a estratégia “na China para a China” para reconquistar consumidores que migraram para veículos elétricos mais acessíveis e repletos de tecnologia de marcas nacionais. No ano passado, a VW anunciou um investimento adicional de 2,5 bilhões de euros (R$ 15,8 bilhões) na China.
A participação de mercado das marcas estrangeiras na China foi de 32% nos dois primeiros meses deste ano, menos da metade dos 64% que detinham em 2020. A BYD ultrapassou a posição há muito tempo ocupada pela Volkswagen como a marca mais vendida, de acordo com a consultoria Automobility de Xangai.
Mas Volkswagen e Toyota ainda são os dois principais fabricantes de veículos a gasolina na China, com uma participação de mercado combinada de 34%.
Após reduzir suas operações na China, a Stellantis —proprietária das marcas Peugeot, Fiat, Opel e outras— adquiriu uma participação de 20% na Leapmotor por 1,5 bilhão de euros (R$ 9,5 bilhões) e está ajudando a startup chinesa a aumentar as vendas na China e na Europa.
Em um esforço para sinalizar seu compromisso com o mercado chinês, a VW tem sido uma crítica vocal das tarifas anti-subsídio da UE sobre importações de veículos elétricos chineses —uma questão divisiva que separou as montadoras alemãs dos apoiadores das medidas, como Stellantis e Renault, que têm pouca exposição ao mercado chinês.
Picat surgiu ao lado do chefe da Stellantis na América do Norte, Antonio Filosa, como um dos dois candidatos internos para substituir Carlos Tavares, que deixou a Stellantis em dezembro após divergências estratégicas.
Questionado sobre o plano para encontrar um substituto para Tavares, Picat disse: “O conselho iniciou um processo muito abrangente que é importante… e eles anunciaram o cronograma, então tudo está sob controle e será uma boa decisão, qualquer que seja a decisão.”