Musk diz economizar ao anular contratos já encerrados – 02/03/2025 – Mundo

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David A. Fahrenthold, Margot Sanger-Katz e Jeremy Singer-Vine

Enquanto George W. Bush era presidente, a Guarda Costeira dos EUA assinou um contrato para obter ajuda administrativa de uma empresa do norte da Virgínia. O serviço custou de US$ 144.000 dólares, e o contrato foi concluído em 30 de junho de 2005.

Vinte anos se passaram. Presidentes vieram e se foram.

Na semana passada, a equipe de reestruturação de Elon Musk, chamada de Departamento de Eficiência Governamental ou Doge, afirmou que havia acabado de cancelar o contrato da Guarda Costeira, que já estava obsoleto —e que, ao fazer isso, economizou US$ 53,7 milhões para os contribuintes americanos.

Essa afirmação, postada no chamado “muro de recibos” do site do Doge, deixou perplexos os especialistas em contratos federais. E houve outras semelhantes. Mesmo depois que o grupo de Musk apagou várias alegações errôneas de seu site na semana passada, o The New York Times descobriu que haviam sido adicionados novos erros —reivindicando crédito por “cancelar” contratos que na verdade já haviam encerrados sob presidentes anteriores.

“Essas não são economias”, disse Lisa Shea Mundt, cuja empresa, The Pulse of GovCon, acompanha os gastos federais. “O dinheiro já foi gasto. Ponto. Sem mais nem menos.”

Esses erros não significam que o Doge não tenha feito cortes no governo federal. Fez, de forma profunda, promovendo demissões generalizadas de funcionários e cancelamentos de contratos ativos, além de ajudar a instigar o fim da Usaid, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

Mas os erros repetidos levantaram questões sobre a qualidade e veracidade das informações que a equipe de Musk está divulgando, incluindo se ela está sendo induzida a erro por outros departamentos. Os erros também parecem colocar em questão a competência dos membros da equipe —se eles compreendem o governo o suficiente para cortar despesas enquanto evitam catástrofes.

“É óbvio que eles não entendem”, disse Eric Franklin, CEO da empresa Erimax, que assessora o governo sobre procedimentos de contratação. A própria empresa dele foi alvo de um dos erros no “muro de recibos” do Doge. O grupo de Musk afirmou ter economizado US$ 14 milhões ao cancelar um dos seus contratos —que já havia terminado em 2021.

“É realmente como um touro em uma loja de porcelana”, disse Franklin. “O que você acaba acontecendo? Uma grande bagunça.”

Na Casa Branca, um alto funcionário da administração ofereceu uma explicação parcial, dizendo que as informações no muro de recibos haviam sido fornecidas por agências federais —muitas das quais têm membros da equipe de Musk incorporados. O funcionário, que falou sob condição de anonimato porque não estava autorizado a descrever os métodos do Doge, disse que o grupo de Musk depois verificou a precisão das alegações das agências.

Por que ainda há tantos erros? O funcionário disse que as agências deveriam responder a essa pergunta. No seu site, o Doge afirma que está tentando melhorar seus dados e pede aos leitores que notifiquem sobre possíveis erros.

Identificadores Ausentes

As agências estão sob uma pressão tremenda para encontrar cortes no orçamento para o grupo de Musk promover. O grupo até criou uma “classificação” para medir quais agências eliminaram mais.

Mas em bancos de dados de contratos federais, há pistas de que essa pressa não está sendo bem gerida ou devidamente acompanhada.

No passado, o governo designou códigos específicos para rastrear grandes lotes de contratos em diferentes agências que estão relacionados a uma iniciativa comum, como a resposta federal à pandemia da Covid-19. Isso facilita encontrar todos os contratos envolvidos.

Mas os contratos no “muro de recibos” não têm essa assinatura. Essa omissão pode significar que há erros nos dois sentidos —não apenas com contratos expirados que não economizam dinheiro, mas também, potencialmente, com contratos que foram cancelados pelo grupo, mas não estão sendo contados.

O grupo de Musk afirmou que economizou US$ 65 bilhões dos contribuintes, cortando contratos, arrendamentos, funcionários federais e outros itens no orçamento federal. Mas ele detalhou apenas duas dessas categorias: cancelamentos de contratos e arrendamentos. Ao somar as economias reivindicadas pelo Doge para cada item, essas categorias representam cerca de US$ 10 bilhões, menos de um sexto do total.

Quando o Doge publicou pela primeira vez sua lista de contratos cancelados, havia cerca de 1.100 exemplos.

Os cinco maiores estavam errados.

Em um caso, o Doge listou um contrato no valor de US$ 8 milhões como se fosse no valor de US$ 8 bilhões. Em outro, contou erroneamente o mesmo contrato de US$ 655 milhões três vezes. Em outro ainda, disse incorretamente que um grande contrato na Administração da Previdência Social havia sido completamente cancelado, economizando US$ 232 milhões. Na realidade, apenas um pequeno projeto dentro desse contrato havia sido cancelado. Economia real: US$ 560.000.

Na semana passada, todas essas afirmações foram removidas. O Doge revisou as economias totais desses cinco cortes de US$ 10 bilhões de dólares para cerca de US$ 19 milhões.

Ao mesmo tempo, o grupo de Musk também adicionou cerca de 1.100 novos contratos cancelados à lista.

Entre as novas entradas, havia várias que haviam terminado antes de Donald Trump assumir a presidência.

O grupo de Musk deu crédito a si mesmo pelo cancelamento de um contrato de US$ 1,9 bilhão do Departamento do Tesouro, sobre tecnologia da informação relacionada ao Imposto de Renda. Mas ele havia sido cancelado em novembro, quando Joe Biden estava no cargo.

O Doge também reivindicou crédito pelo cancelamento de dois contratos diferentes da Guarda Costeira que haviam terminado durante a administração de George W. Bush. Além do contrato deUS$ 53 milhões que terminou em 2005, o grupo de Musk disse que havia economizado mais US$ 53 milhões cancelando outro contrato com o mesmo fornecedor. Dados públicos de contratos mostram que um deles terminou em 2006.

Deniece Peterson, diretora sênior de análise de mercado federal na empresa Deltek, disse que ambos os contratos faziam parte de um acordo maior de gastos com um limite de US$ 53 milhões. Ao todo, ela disse que a Guarda Costeira pagou ao fornecedor cerca de US$ 35 milhões ao longo de vários anos. Todo o trabalho relativo a esse acordo foi concluído em 2011, e os dados de contratos federais mostram que não há faturas pendentes e que não era esperado que mais dinheiro fosse gasto.

Tricia McLaughlin, porta-voz do Departamento de Segurança Interna dos EUA, não deu uma explicação para o motivo de o departamento ter reivindicado economias de US$ 106 milhões com o término desses dois contratos já obsoletos.

Em vez disso, ela respondeu a perguntas do Times com um e-mail dizendo: “Estamos certamente empolgados com as economias de mais de US$ 100 milhões para os contribuintes.”

E enviou os links no site do Doga que levavam a contratos diferentes daqueles mencionados.

O Doge afirmou ter economizado US$ 149 milhões ao cancelar um contrato para três assistentes administrativos no Instituto Nacional de Saúde, no valor de cerca de US$ 1,4 milhão.

No entanto, o link levava à página de um contrato não relacionado com uma empresa diferente que fornece gases refrigerados usados em laboratórios. Esse contrato, que não parece ter sido cancelado, tinha o valor de apenas US$ 118.000.

Depois de ser questionado sobre os erros, um funcionário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos disse que o Doge estava trabalhando para corrigir o site.



Leia Mais: Folha

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