O Brasil anuncia compensação pela vítima de ditadura Vladimir Herzog | Notícias de direitos humanos

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O governo do Brasil anunciou um acordo para reconhecer sua responsabilidade no assassinato de Vladimir Herzog, um jornalista e dissidente que foi morto durante o período de ditadura do país.

Na quinta -feira, o governo concordou com uma declaração de responsabilidade e um pacote de compensação para a família de Herzog, totalizando 3 milhões de reais brasileiros, ou US $ 544.800.

O acordo também afirmou a decisão de um tribunal federal no início deste ano de conceder viúva de Herzog, Clarice Herzog, pagamentos retroativos de uma pensão que ela deveria ter recebido após a morte do marido, totalizando cerca de US $ 6.000 por mês.

Em uma declaração registrada pela agência de notícias da Associated Press, o filho de Herzog, Ivo Herzog, aplaudiu a decisão do governo de aceitar a responsabilidade.

“Esse pedido de desculpas não é meramente simbólico”, disse Ivo. “É um ato do estado que nos faz acreditar que o atual estado brasileiro não pensa como o estado brasileiro daquele tempo”.

Ele acrescentou que a história de sua família representava centenas, senão milhares, de outras pessoas que mataram seus entes queridos durante o período de ditadura de 1964 a 1985.

Ter o governo reconhecendo suas irregularidades, explicou, foi uma luta de décadas.

“Esta tem sido uma luta não apenas da família Herzog, mas de todas as famílias dos assassinados e desaparecidos”, disse Ivo, que agora administra uma organização sem fins lucrativos de direitos humanos nomeada para seu pai, o Instituto Vladimir Herzog.

Vladimir Herzog tinha 38 anos na época de sua morte em 1975, no meio do período de ditadura.

O exército brasileiro derrubou o presidente de esquerda João Goulart uma década antes e instalou um governo que ficou conhecido por violações de direitos humanos, incluindo a prisão arbitrária e a tortura de dissidentes, estudantes, políticos, indígenas e qualquer outra pessoa considerada uma ameaça.

Muitos foram exilados. Alguns foram mortos ou simplesmente desapareceram sem deixar rasto. Estima -se que o número de mortes seja de cerca de 500, embora alguns especialistas estejam com 10.000 ou mais.

Herzog era um jornalista proeminente e, inicialmente, ele também foi exilado no Reino Unido. Mas ele voltou ao Brasil para servir como editor de notícias de uma estação de televisão pública, a TV Cultura. Foi nesse papel que, em 24 de outubro de 1975, Herzog foi convocado pelas autoridades a um quartel do Exército.

Lá, oficiais militares indicaram que ele seria solicitado a testemunhar sobre suas conexões políticas. Herzog voluntariamente saiu para oferecer sua declaração. Mas ele nunca voltou para casa.

Os militares mais tarde alegaram que a morte de Herzog foi um suicídio e divulgou uma foto encenada de seu corpo pendurada em uma corda.

Mas um rabino que mais tarde examinou o corpo de Herzog encontrou sinais de tortura. O funeral de Herzog, conduzido com ritos religiosos completos, se transformou em um momento de acerto de contas para a ditadura brasileira, e a fotografia encenada se tornou um símbolo de seus abusos.

Seu filho Ivo tinha apenas nove anos na época. No início deste ano, ele falou com Al Jazeera Sobre o lançamento de um filme chamado I’m Still Here, que destacou outro assassinato cometido sob a ditadura: o de Rubens Paiva, um político.

Como Herzog, Paiva voluntariamente saiu para dar testemunhos a pedido de oficiais militares e nunca mais foi visto vivo. Seu corpo nunca foi encontrado. Levou décadas para a família de Paiva receber um atestado de óbito que reconheceu o papel das forças armadas em sua morte.

Ivo elogiou o filme que ainda estou aqui por aumentar a conscientização sobre as injustiças da ditadura. Ele também disse à Al Jazeera que esperava que o governo brasileiro reconhecesse o dano que havia causado a sua família e alterar a lei de anistia de 1979 que protegeu muitos oficiais militares de enfrentar a responsabilidade.

“O que eles estão esperando? Para que todos conectados a esse período morram?” Herzog disse ao jornalista Eleonore Hughes. “O Brasil tem uma política de esquecimento e evoluímos muito, muito pouco.”

Na quinta -feira, Jorge Messias, conselheiro jurídico federal do Brasil, enquadrou o acordo com a família Herzog como um passo à frente.

“Hoje, estamos testemunhando algo sem precedentes: o estado brasileiro honrando formalmente a memória de Vladimir Herzog”, disse ele.

Ele também comparou o golpe de 1964 com as circunstâncias modernas da política brasileira. Em 8 de janeiro de 2023, milhares de apoiadores do presidente da extrema direita, Jair Bolsonaro, invadiram prédios do governo na capital do Brasil, após as eleições de 2022 viram seu candidato derrotado.

O atual presidente, o líder de esquerda Luiz Inacio Lula da Silva, comparou esse incidente a um golpe. Bolsonaro testemunhou este mês Em tribunais, ele ajudou a orquestrar um esforço para anular o resultado das eleições.

“Nas eleições de 2022, ficamos em uma encruzilhada: para reafirmar a democracia ou avançar em direção ao fechamento do estado brasileiro, com todos os horrores que vivemos por 21 anos”, disse Messias, referenciando os horrores da ditadura.



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