Se no mercado de trabalho as mulheres ainda encontram resistência para conquistar espaço, na educação algumas lacunas de gênero se inverteram ao longo das décadas. As mulheres alcançaram maior nível de alfabetização, maior escolaridade e um fluxo escolar mais regular. Segundo dados do Censo Escolar, a taxa de distorção idade-série dos meninos no ensino médio é de 23%, 7 pontos percentuais a mais do que das meninas; e a taxa de reprovação dos meninos é de 6,6%, 2,1 pontos percentuais acima das meninas.
Diferenças análogas persistem no ensino superior. O mais recente Censo Demográfico revelou que, entre as mulheres com 25 anos ou mais, 20,7% tinham nível superior completo, enquanto entre os homens apenas 15,8% alcançaram essa escolaridade. Também há disparidade em favor das mulheres na outra extremidade da escolaridade, com menor proporção de mulheres sem instrução.
A aparente vantagem das meninas e mulheres na educação não se reflete automaticamente em ganhos proporcionais no mercado de trabalho. A taxa de participação masculina na força de trabalho é maior do que a feminina, de acordo com dados do IBGE. Homens são expressiva maioria nos cargos gerenciais, e a remuneração média das mulheres é menor. Os dados também mostram que as mulheres enfrentam maior carga de afazeres domésticos e tempo dedicado ao cuidado. Mesmo em países de alta renda, a escolaridade por si só não foi suficiente para eliminar a desigualdade de gênero. Ainda há desafios para mudar normas sociais e culturais que perpetuam as disparidades de gênero.
A despeito da escolaridade mais elevada, as mulheres acabam atuando em setores de menor rendimento. Os motivos vão além das diferenças de aptidão e se relacionam com barreiras estruturais. As escolhas profissionais de meninas e meninos podem ser muito influenciadas por estereótipos e pelo desempenho acadêmico. No Enem, por exemplo, os homens apresentam desempenho superior, especialmente em matemática e ciências da natureza.
Dados do Pisa, avaliação internacional, mostram consistentemente diferenças de gênero nos resultados de matemática e ciências em favor dos meninos, mas não só isso. Há também evidências de que as meninas estão mais sujeitas à ansiedade matemática e menor autoconfiança em sua habilidade para resolver problemas de matemática ou de ciências. Além disso, os pais esperam mais frequentemente que seus filhos, em vez de suas filhas, sigam carreiras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, mesmo quando eles apresentavam desempenhos equivalentes. Esses fatores reforçam um viés de seleção profissional, direcionando as mulheres para áreas de menor remuneração. Por outro lado, quando meninos e meninas possuem o mesmo nível de confiança em suas habilidades, a diferença de gênero no desempenho diminui.
As evidências demonstram que as disparidades de gênero no desempenho acadêmico e na alocação profissional não derivam exclusivamente de diferenças inatas em habilidade, mas de fatores sociais e culturais. É simplista reduzir as disparidades apenas a preferências individuais, negligenciando o papel exercido pelos estereótipos de gênero e expectativas que pais e professores colocam nos jovens.
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