Julia Estanislau
Consumir conteúdos de baixa ou nenhuma qualidade nas redes sociais tem nome: brain rot. O termo voltou a circular nas redes sociais nos últimos meses com o surgimento do “brain rot italiano”. São memes feitos por inteligência artificial que combinam elementos diferentes para criar personagens como Tralalero Tralala, tubarão que usa um tênis da marca americana Nike.
“Brain rot”, o “apodrecimento do cérebro”, é usado para descrever algo sem valor noticioso, artístico ou educacional. É a sensação de deterioração do cérebro após horas vendo vídeos e memes criados para não terem sentido algum. Quanto mais alguém consome esse tipo de conteúdo, mais “derretido” ou “podre” seu cérebro se torna.
O termo, com esse significado, é usado desde 2007 no Twitter (atual X), de acordo com a biblioteca de memes online Know Your Meme. A Oxford University Press, editora do dicionário Oxford, escolheu “brain rot” como palavra do ano em 2024 por seu destaque na discussão sobre os perigos de consumir conteúdo virtual em excesso.
No TikTok, animais híbridos feitos por IA começaram a surgir no início de 2025 com o nome de “brain rot italiano”. Os vídeos mostram diversos personagens com nomes italianos, em ambiente diferentes, com trilha sonora própria e acompanhados de uma narração feita por IA, também em italiano.
Dados do Google Trends confirmam essa tendência e mostram que o interesse pelo meme começou a crescer em abril e continua popular neste mês. As principais buscas são pelos personagens e o que significa o termo.
A onda de vídeos gerados por IA começou com o Tralalero Tralala. Uma edição do personagem com um efeito de explosão do CapCut, aplicativo de edição de vídeos, viralizou no TikTok em janeiro. Desde então, o universo brain rot se expandiu.
O número de personagens aumentou e histórias foram criadas em torno delas. Por exemplo, Ballerina Cappuccino é namorada do Cappuccino Assassino, mas, em alguns vídeos, aparece casada com Tung Tung Tung Sahur —pedaço de tronco com rosto, braços e pernas que faz parte do brain rot da Indonésia. São vários países envolvidos.
A hashtag #brainrot já reúne 1,4 milhão de vídeos. Em um deles, Messi aparece como “messino assassino” e “tung tung tung messur”. Em outro, Shakira dança ao ritmo de “Waka Waka” ao lado de Tralalero Tralala e Tung Tung Tung Sahur. Nem Michael Jackson escapou.
A repercussão chegou até a perfis de empresas e clubes de futebol, como o PSG (Paris Saint-Germain F.C.), Bayern de Munique e Juventus. Os times entraram na trend com o áudio do Tung Tung Tung Sahur.
Clubes brasileiros, como o Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Flamengo participam da trend.
A Ryanair, linha aérea irlandesa, também utiliza o brain rot em sua conta no TikTok.
“Usar tendências é interessante para marcas que têm como estratégia a conversa constante com seu público e estarem presentes no cotidiano das pessoas”, diz Guta Tolmasquim, fundadora da Purple Metrics, software de ciência de dados para construção de marca.
Guta diz que usar tendências não é algo novo no marketing. A rádio e a televisão já exploram isso. Trata-se de uma adaptação a um novo canal de comunicação: as redes sociais.
“O TikTok é um ótimo lugar para brincar com tendências porque exibe os vídeos para as pessoas que já estão participando daquela conversa”, diz. A brincadeira dá certo e é incorporada organicamente pelas empresas porque, muitas vezes, a geração Z é responsável pela gestão das redes sociais.
O brain rot ganhou fama pelo impulso das gerações Alpha (nascidos a partir de 2010) e Z (nascidos entre 1997 e 2010). Esses vídeos saíram do TikTok e estão presentes também no Instagram e no X, antigo Twitter.
Funks também foram produzidos a partir das narrações de IA. No Spotify, várias playlists foram criadas com as músicas. Na Shopee, site de e-commerce, camisetas gráficas desses personagens estão à venda.
Colaborou Vitoria Pereira
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