Matheus Leitão
Nada que Lula fez nos últimos meses teve tanto efeito sobre a imagem do governo quanto a tentativa de Donald Trump de retaliar o Brasil. Os gestos do norte-americano produziram um resultado que nem o marketing do PT, nem a base aliada, nem os números da economia haviam conseguido: reposicionar Lula na corrida eleitoral.
A mais recente pesquisa Atlas-Bloomberg mostra que a aprovação de Lula superou a rejeição pela primeira vez no ano. Em todos os cenários para 2026, ele vence – inclusive, adversários com sobrenome Bolsonaro.
Nada mudou substancialmente na condução do governo, com exceção do enredo que embala Lula: agora, fustigado por uma potência estrangeira, reaparece como protetor da soberania nacional.
O Palácio do Planalto entendeu rápido – o que quase nunca ocorre – o valor simbólico do ataque, e jogou parado, em contraste com o histrionismo de Trump, cujo tarifaço, ao final, acabou excluindo setores relevantes da economia.
O resultado é uma pane na sala de descontrole dos bolsonaristas. Primeiro, assistiram calados às iniciativas de Trump contra o Brasil, sem coragem para defender nem criticar. Estão presos na contradição de torcer pelo fracasso do país como efeito colateral da ofensiva contra Alexandre de Moraes.
Trump ofereceu ao governo Lula um inimigo externo sob medida – previsível, pirotécnico e desgastado internacionalmente –, permitindo que o petista reencontrasse o rumo. A verdade é que o maior símbolo da extrema direita global pode ter se tornado o grande cabo eleitoral de Lula.
Jair Bolsonaro se recusou a repassar a faixa presidencial ao petista naquele 1º de janeiro de 2023, mas o “I love you” dirigido a Trump, finalmente (e ironicamente), trocará de boca.



