Matheus Leitão
Gleisi Hoffmann é uma puro sangue do PT, demonstrou várias vezes o seu valor ao partido e ao presidente Lula. Antes da Lava Jato, durante a prisão do líder esquerdista, na vitória dele sobre Jair Bolsonaro e mais recentemente ao costurar a aliança que deu a vitória a Hugo Motta na presidência da Câmara.
Ou seja, são muitas facetas em uma mesma pessoa política.
Contudo, o perfil combativo, na atual conjuntura, pode não ser o ideal para o cargo de articulação política de um governo fragilizado pela alta inflação de alimentos, pela queda da popularidade e pela relação difícil com o Congresso.
O melhor seria colocar alguém do centrão desde que fosse leal ao governo. É por isso que se pensou no ministro Silvio Costa Filho, do partido do presidente da Câmara Hugo Motta. Com ele, talvez Lula finalmente saísse do córner em que encontra desde o dia 1 da terceira gestão na conturbada relação com o Congresso conservador. Além disso, poderia dar novamente a cara de frente ampla ao Lula-3.
Listando todas as qualidades que Gleisi Hoffmann, a conciliação, essencial para o Ministério das Relações Institucionais, não é a maior delas. A presidente do PT é do embate e do confronto político. Fez sucesso e saiu vitoriosa na política assim.
Há quem diga em Brasília que uma coisa é a Gleisi presidente do partido, outra será ela como representante do Lula na negociação política do dia a dia. De fato, pode ser uma boa oportunidade para mostrar outras habilidades.
A ver.
É fato que há uma certa misoginia na avaliação de que ela não dialoga. Gleisi montou a frente ampla do segundo turno, conversando com Simone Tebet, Baleia Rossi, Soraya Thronicke, Gilberto Kassab. Antes disso, montou a frente de oposição a Bolsonaro, com PSOL, Rede e até o PDT de Ciro Gomes. Não é pouca coisa e Lula sabe disso.
Se a ideia é dar tração para uma aposta populista de Lula contra a extrema-direita no fim de mandato, por sua boa relação com Hugo Motta, faltou uma soma na equação. Contabilizar os muitos inimigos que a presidente do PT fez nos últimos anos no Congresso, e as arestas dentro do próprio PT e do governo. Ela sempre criticou abertamente a política econômica de Fernando Haddad, por exemplo.
As mudanças agora ganharam um tom mais urgente, porque, na prática, falta pouco mais de um ano para o governo acabar. No ano que vem, em meados de abril, só vai se falar de campanha.
Por esse prisma, parece mais um tudo ou nada – o all-in dos jogadores de pôquer – de Lula. Se der certo, coloca ele no quarto mandato. Se der errado, tira o maior líder esquerdista da América Latina da urna eletrônica (ou cédula, para os mais velhos) de 2026.