Os gigantes da educação respiram – 23/03/2025 – Marcos de Vasconcellos

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O Ibovespa, que terminou o ano passado maltrapilho e maltratado, reagiu bem à chuva de tarifas que assombra a economia dos Estados Unidos e já registra praticamente 10% de alta neste ano.

É um alívio na carteira de ações, depois de tanta tempestade. Mas, com a taxa básica de juros acima de 14% ao ano, colocar suas fichas em títulos do Tesouro, rendendo mais de 1% ao mês, praticamente livre de risco, continua tentador demais.

Ainda assim, quem peneira oportunidades na Bolsa pode ter se deparado com boas surpresas nos últimos meses. Quase insignificantes na composição do Ibovespa, representando menos de 0,5% do índice, as gigantes da educação ficam, muitas vezes, fora do radar dos investidores.

Neste ano, a valorização de suas ações foi chocante. A Cogna (COGN3) viu seus papéis decolarem impressionantes 74% desde o Réveillon, enquanto os da Yduqs (YDUQ3) subiram quase 40% e os da Ânima (ANIM3) escalaram 35%.

O gráfico é de cair o queixo, quando analisamos 2025 isoladamente. Se olharmos para os últimos 12 meses, entretanto, é puro sofrimento. Perdas de mais de 50%. O filme de terror para o setor da educação na Bolsa está em cartaz desde a pandemia de Covid-19, ou seja, lá se vão cinco anos.

A junção entre os lockdowns (quando nos trancamos em casa para fugir do vírus) e o avanço tecnológico permitiu a oferta massiva dos cursos a distância, pelo preço de um pãozinho. Todo o modelo de negócio teve que se reestruturar. E as ações foram a reboque. Os papéis da Cogna, por exemplo, hoje, são negociados a um valor 84% menor do que em 2020. Ânima e Yduqs registram, no mesmo prazo, quedas de mais de 70%.

A virada para 2025, entretanto, parece ter trazido um sopro de esperança para as gigantes. A recuperação de suas ações ainda é ínfima perto das quedas, mas extremamente significativa, já que duas delas tocaram o preço mais baixo da sua história em dezembro. Não dá para garantir que foi o fundo do poço, mas há bons sinais de que tenha sido uma inversão de tendência.

Analistas de corretoras parecem animados com o momento. O time do BTG Pactual e da XP recomendam a compra de duas das três ações do setor. Ao que parece, as contas do último trimestre mostram um dever de casa bem feito.

Na Yduqs, por exemplo, apesar de a receita com ensino presencial ter sido de R$ 2,1 bilhões e a do digital ter sido de R$ 1,7 bilhão, seu resultado com o segmento digital foi muito melhor (R$ 1,3 bilhão versus R$ 996 milhões). Ou seja, do limão, finalmente, saiu limonada. Ao menos na quantidade de cursos vendidos.

O reposicionamento tecnológico do setor impulsionou também a mudança de cenário brasileiro. O Censo da Educação Superior mostra crescimento recorde de matrículas. De 2021 para 2022, o último ano do governo Bolsonaro, o salto de ingressantes foi de mais de 20%, chegando a 4,75 milhões de novos alunos, com a educação a distância (EaD) superando a presencial.

Em 2023, a chegada de novos estudantes às salas de aula manteve-se em alta. O governo do PT tradicionalmente concentra esforços e gastos (e publicidade) na ampliação do acesso ao ensino superior. Em janeiro, por exemplo, lançou um programa para pagar bolsas de R$ 1.050 a estudantes de licenciatura.

Bons sinais para um setor que navegou por mares tão turbulentos nos últimos anos.


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