Rivais dão a Lula dois problemas e, sem querer, uma chance de recuperação

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Daniel Pereira

Na virada de 2024 para 2025, Lula enfrentou um processo de derretimento de imagem. Pesquisa Datafolha divulgada em fevereiro mostrou que a aprovação ao presidente era de apenas 24%, a menor registrada em seus três mandatos no Palácio do Planalto. A reprovação também era recorde: de 41%.

Antes da divulgação dos números, o petista já tinha definido como prioridade acelerar a entrega de projetos para recuperar popularidade. Como parte desse esforço, ele até trocou o comando da Secretaria de Comunicação da Presidência, entregando-o ao marqueteiro Sidônio Palmeira, que cuidou das últimas campanhas presidenciais do PT. O plano não deu muito certo.

Em junho, de acordo com nova rodada do Datafolha, a reprovação a Lula era de 40%, e a aprovação, de 28%. Crises como o esquema de roubo de aposentadorias e pensões do INSS anularam a melhora da percepção popular sobre os rumos da economia, mantendo o governo na defensiva.

Sucessão de problemas

A situação ficou ainda pior no campo político. Primeiro, um deputado recusou um convite para ser ministro, submetendo a articulação política de Lula a um senhor constrangimento, interpretado por muitos como um sinal de debandada na base governista.

Depois, o governo sofreu uma derrota acachapante com a derrubada pelos parlamentares, sob forte influência do escorregadio Centrão, dos decretos que aumentavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Diante do resultado, alguns políticos e alguns analistas passaram a dizer que o governo estava acabado e que Lula nem sequer disputaria a reeleição, por medo de ser derrotado. Mas o presidente, como reza o dito popular, fez do limão uma limonada e pela primeira vez encontrou um discurso que mobilizou seus ministros, uniu a gestão e ecoou nas redes sociais, dando fôlego aos aliados no embate com a oposição.

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Sem ter resultados a apresentar em áreas sensíveis, como a segurança pública, Lula aproveitou a derrota no IOF  para dizer que tenta fazer justiça tributária. Ou seja: tenta taxar os mais ricos para aliviar o fardo dos mais pobres. Essa muleta retórica tirou os governistas das cordas, segundo monitoramento feitos nas redes sociais, e se transformou numa rara agenda positiva.

É mais ou menos o que o presidente e seus auxiliares tentarão fazer agora em relação ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como forma, entre outras coisas, de tentar impedir a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O tarifaço é um problema monumental para o governo, os exportadores e a economia brasileira. Ao mesmo tempo, dá ao presidente uma oportunidade de mostrar serviço. De mostrar que sua política externa é pragmática e não contaminada pelo viés ideológico. De defender a soberania nacional e a força das instituições. De zelar pelos produtores e trabalhadores brasileiros. De se aproximar de setores do PIB avessos ao PT. E, claro, de desgastar Bolsonaro.

A chance está dada. Caberá ao presidente decidir se afunda ou redime uma gestão que até aqui não entusiasma eleitores, políticos e iniciativa privada.



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